quinta-feira, 25 de junho de 2015

As cadeiras





Não tem muito que saber:
Estou velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma geração em vias de extinção!

À porta do supermercado cá do meu burgo os artigos de praia que não cabem lá dentro. Drapejando ao vento, um exemplar em exibição em cima das caixas virgens, apelando à frescura e tranquilidade do seu uso.
Achei-lhes graça. Mais ou menos.
O riscado colorido desta em primeiro plano apelava à minha memória de sombras fresca em praias quentes ou de refrescos bebidos sob frondosos pinheiros em fins de semana quase campestres.
O padrão da cadeira do fundo nada me disse que não fosse recordar-me de azulejos de casa de banho, igualmente frescos em dias de calor, mas não apetecíveis para sentar e desfrutar.
Fui olhar com mais atenção.
A lona é fina e as costuras antecipam poucos verões. Faz sentido, numa sociedade de consumo como a nossa. Mas retira o prazer de, todos os anos, usarmos a nossa cadeira favorita, que não existirá.
As travessas de madeira têm, se a memória bem mo recorda, metade da largura das antigas. Mais leves de transportar, mais fáceis de arrumar e menos resistentes a corpos pesados ou brincadeiras mais pueris ou nem tanto. A tal ponto o são que o sistema de encaixe não comporta integralmente a respectiva travessa e teve que ser reforçado com pecinhas em plástico. Um ano? Dois anos? Nem me atrevo a especular na sua durabilidade.
Mas achei graça ao regresso ao passado.

Fiz as compras que haveria de fazer e, já de saída, vejo uma das empregadas da loja com ar de quem não tem muitos afazeres no momento. E, tendo eu um nariz mais comprido que a minha barba, abordei-a.
Questionei-a sobre quais as cadeiras que mais se vendem: as riscadas ou as de azulejo.
Qual não foi a minha surpresa quando me disse que são as azulinhas. Que as de riscado colorido quase não têm saída.

Confesso que não me vejo a procurar a frescura e tranquilidade nas paredes de uma casa de banho. Agora nas paredes de uma barraca de praia…
Mas talvez seja eu que estou velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma geração em vias de extinção!

Nota fotográfica adicional:
O difícil mesmo foi encontrar um momento de calmaria na brisa fraca e inconstante, por forma a conseguir aquela sombrinha em forma de barriga que demonstrasse a curvatura do tecido em ambas as cadeiras.


By me

Sem comentários: