sábado, 6 de junho de 2015

Métodos e resultados





Em saindo de casa em busca do primeiro café expresso e de pão, vejo a minha rua invadida: Vários grupos de catraios, vestidos com camisolas iguais e enquadrados por adultos, esquadrinhavam a rua.

Não demorou muito que percebesse o que se passava: um raly-papper.

É uma daquelas actividades sem muita popularidade, vá-se lá saber porquê. Divertida se bem concebida, leva os participantes a porem em prática o seu sentido de observação e de grupo, discutindo entre si as possíveis soluções aos problemas apresentados.

Aliás, acho a sua prática tão interessante que já a utilizei com fins didácticos.

A primeira vez, faz já muito tempo, numa escola que me chamou para reforçar as actividades circum-escolares do terceiro ciclo.

Como prática final, concebi dois trajectos diferentes, com perguntas e propostas cujas respostas teriam que ser apresentadas sob a forma de fotografias. A questão estava em que as soluções “certas” implicavam o colocar em prática o aprendido em sala, já que só havia uma resposta possível. Perspectiva, controlo de exposição, contrastes tonais ou de cor, tempo de exposição, profundidade de campo, gestão de luz existente… eram várias as temáticas abordadas.

A turma foi dividida em dois grupos, um acompanhado por mim, o outro acompanhado pelos professores titulares, cada grupo com propostas e questões diferentes.

O resultado, tanto do convívio e prática como das fotografias resultantes e as aprendizagens obtidas foi muito satisfatório, para não ir mais longe.

Fui mantendo este exercício ao longo do tempo, tanto com jovens em situação escolar como noutros grupos, em moldes de “workshop” ou equivalente.

Mas, e a partir de dada altura, os resultados começaram a decrescer. Não devido ao proposto mas às técnicas usadas pelos participantes: a câmara digital.

A possibilidade de fazer-se várias tentativas, na esperança de uma delas estar melhor que as outras, leva a que todo o processo de raciocínio perca qualidades. O acto de pensar e ter certezas antes de premir o botão foi-se perdendo.

A alternativa, em termos educativos ou formativos, seria a imposição de regras apertadas quanto ao número de imagens possíveis de fazer, resultando numa prática mais castrante que libertadora.

Na época em que comecei com este exercício, o facto de ser executado em película, com um bem determinado número de imagens possíveis, conduzia a essa disciplina interior, a esse “pensar antes de fazer”, a ter certezas. Mesmo entre adolescentes, com a sua energia e pressa de viver.



A imagem?

Tendo participado nessa primeira acção de formação a título gratuito, foi o que me foi oferecido na última sessão. Feita pelo grupo que não acompanhei, escolhida, paga, emoldurada e entregue solenemente pelos alunos.

O facto de o terem feito e a energia e vontade de liberdade que vejo nesta fotografia faz com que seja das poucas que tenho em exibição permanentemente aqui em casa, pese embora os acidentes de percurso que já sofreu.

E um orgulho tremendo nela. 

By me

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