sábado, 31 de maio de 2014

Uma teoria



Serei tudo aquilo que me quiserem chamar e mais um par de botas.
Mas o que é certo é que desconfio que o que neste momento se passa no Partido Socialista não é uma luta de poder, não é fruto de circunstâncias bpontuais e conjunturais mas antes uma jogada prevista e calculada, há muito tempo.
Com o definido objectivo de, após as eleições europeias se substituir o líder em vigor – que não possui carisma algum – por um outro – esse sim, de quem se ama ou odeia – e, com isso, preparar uma forte campanha para as legislativas do ano que vem.
Mais ainda, acredito que a eleição de Seguro como líder do PS foi já nesse sentido, já que se previa ser impossível fazer uma oposição forte e eficaz à coligação no poder. E haveria que deixar a coligação fazer o papel de”mau da fita”.
Neste momento, e nos tempos que se avizinham até às eleições legislativas, já Sócrates pouco mais é que uma lembrança e o líder do PS, gasto numa luta vã e inglória, é alguém para colocar de lado e escolher alguém que, de facto, colhas as simpatias dos eleitores.
Resta saber – e presumindo que esta minha “teoria da conspiração” está correcta – se José Seguro saberia da “tramóia” ou se terá sido algo congeminado pelos barões do partido e retirada da manga como se de natural se tratasse.

By me

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Há dois erros graves que muitos cometem:

Subestimar os “inimigos” e sobrestimar os “amigos”.

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Prédios amarelos



Exercício com piada é fazer de conta que se está perdido.
Numa zona da cidade que conhecemos, pedimos a quem passa (mero transeunte, comerciante ou mesmo polícia) as indicações para se chegar a um qualquer local na zona que implique mudar duas vezes de rua, pelo menos.
O que acaba por ter mesmo graça é constatar que as indicações que nos dão para o mesmo local variam enormemente. Uns usam esquinas como referência, outros lojas (farmácias, drogarias, moveis, centros comerciais) outros semáforos, outros ainda contam quarteirões ou cruzamentos, alguns optam pelo caminho indo pela direita, outros pela esquerda…
Suponho que haja tantas variações quanto pessoas, e que dependem dos interesses de cada um, o género, a idade e, igualmente importante, se frequenta a zona sempre a pé ou geralmente a conduzir.
Uma das referências habituais são os edifícios incomuns. Ou pelo formato, ou pelo tamanho, ou pela cor… Se bem que a cor terá que ser incomum para servir tal propósito.

Um destes dias perdi-me em Lisboa, numa rua que conheço bem. Parei para acender um cigarro e observar o que por ali havia e, de súbito, não reconheci o local.
Tratava-se de um cruzamento conhecido por possuir um prédio bem alto, em betão e com uns trinta ou quarenta anos bem medidos, e cujas colunas exteriores em cimento, bem evidentes, sempre estiveram pintadas de amarelo. Era conhecido pelo “prédio amarelo”.
Pois desta feita, em olhando para ele, não o reconheci, que o pintaram de branco. E esta mudança é de tal forma que, durante uns segundos, não soube onde estava, tendo que passar ao modo “racional” para voltar a ter referências.
Felizmente, noutra zona da cidade, os “prédios amarelos” continuaram a sê-lo. Por muitos e longos anos, tal como os que já levam de vida. Ali para os lados do Júlio de Matos, que também já não tem esse nome formal mas que nunca será conhecido de outra forma.

Não há muitos prédios amarelos p’la cidade, mas convém que continuem a sê-lo para que não nos perdamos na cidade em que nascemos.

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Significados



Leio um artigo onde surge esta palavra abaixo. Não a conhecia em detalhe e fui saber no dicionário.

Gentrificação
Substantivo feminino
Processo de valorização imobiliária de uma zona urbana, geralmente acompanhada da deslocação dos residentes com menor poder económico para outro local e da entrada de residentes com maior poder económico.

Caramba! Não é o que está a acontecer no país inteiro??????

E não somos nós – os Portugueses – os tais com menor poder económico????

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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Amolador



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Opinião



Fico com uma opinião muito definida sobre qualquer pessoa que classifica de “colaboradores” quem, como ela mesma, é assalariada de uma empresa.
Com contratos a termo certo, a termo incerto ou sem termo.
Regra geral, ainda que com honrosas excepções, quem usa esta classificação está do outro lado da barricada. E tenho que ser eu a descer ao seu nível intelectual e de vocabulário para que a comunicação exista.

Nem sempre me apetece.

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Dúvidas

É daquelas dúvidas existenciais que não creio que a História algum dia venha a esclarecer:
Quem terão sido os “iluminados” que criaram as frases “Quem corre por gosto não cansa” e “Pancada de amor não dói”.


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Facilitismos



O acto de fotografar é hoje quase tão banal quanto o beber um copo de água.
Um pássaro, uma festividade, um acidente, um raio de luz e já está! Saca-se da câmara, como o cowboy da pistola, e dispara-se, perdão, fotografa-se.
O relativamente baixo custo das câmaras digitais, por vezes disfarçadas de telemóveis, e o quase nulo custo do apertar do botão do obturador - que nome se dará nas câmaras digitais? - faz com que talvez se produzam mais fotografias por unidade de tempo que cigarros fumados. Ainda bem!
Há cada vez mais gente a registar aquilo que vê - e por vezes aquilo que sente - o que permite que um maior número de pessoas tenha acesso a uma forma de expressão que os satisfaça.

Mas este facilitismo tecnológico e, porque não, económico, tem as suas desvantagens!
Por um lado, a fragilidade do seu suporte. As imagens apagam-se com enorme facilidade, com um simples delete, para poupar espaço nos arquivos. Ou ainda perdem-se com avarias imprevistas nos discos rígidos ou ópticos, desaparecendo assim o trabalho e a memória colectiva.
Por outro, o custo zero do disparo faz com que os fotógrafos produzam muito mais imagens de um mesmo assunto, cada uma delas menos pensada, ponderada.
“Clic, clic, clic, à velocidade do processamento da memória ou da prontidão do flash. Alguma delas estará boa. Depois logo se verá!”
A aprendizagem, através da “tentativa e erro” é francamente mais lenta. O guardar na memória electrónica daquilo que o sensor vê é feito com muito menos certezas e muito mais por acasos.

Talvez por tudo isto eu seja um pouco “conservador”!
Ainda que, no momento, quase só utilize equipamento digital e, com ele, siga um pouco “na onda” do acima descrito, sinto alguma nostalgia das câmaras clássicas de película. Em particular as de médio e grande formato.
O custo de cada imagem, tanto a nível do original como do laboratório, implicava algum grau de certeza no acto de fotografar. E a complexidade do equipamento e o seu peso e tempo usado antes e depois da tomada de vista eram tais que só se disparava o obturador pela certa. Gastar trinta ou mais minutos numa fotografia para “deitar fora” não é apelativo!
Estas câmaras, e o seu manuseio, tinham implicações - limitações, desvantagens, vantagens? - que nos levavam a pensar o assunto, na sua forma e conteúdo, que nos levavam a estudar a técnica e a estética de cada imagem antes de a fazer. Que nos obrigava a “VER” a imagem, antes de a obter.
Não significa isto que as imagens produzidas por estas câmaras e métodos fossem melhores que as actuais. A qualidade das fotografias - e do trabalho do Homem - não depende da ferramenta mas dele mesmo e do uso que lhes dá!
Mas levava a uma maior disciplina interior que hoje cada vez mais se vê menos.
No caso da fotografia, cada vez mais se vêem imagens que, sendo bastante razoáveis e tendo grande potencial, poderiam ser muito melhores se o fotógrafo tivesse “pensado” e “visto” a imagem antes de a fazer.
O facilitismo e a quantidade nem sempre - ou raras vezes - significam um aumento da qualidade na mesma proporção.

E contra mim falo, entenda-se!

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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Às vezes revemo-nos



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Bi-cromático



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Arrogâncias & Cia



Os meus passos, hoje, levaram-me para junto de uma muito grande superfície comercial. Não que goste muito deste espaço, mas já que estava por lá, aproveitei para ir à zona da alimentação, buscar um tempero que não é comum de encontrar p’las minhas bandas mas que sei aqui haver. Havia.
Continuando o aproveitar o local, fui meter o nariz na zona da fotografia. Não apenas é mania minha mas como ando a pensar fazer uma oferta um destes dias… há que saber o que há no mercado e a que preços. Lá fui.
Cusquei, cusquei e, interessado num modelo de câmara, dirigi-me a um dos funcionários, dizendo que queria saber umas informações e, se possível, testar o manusear e o acesso aos menus.
Não gostei! Não gostei nem um nico da forma como fui tratado.
Já estou habituado a que, olhando para mim, seja tratado pela embalagem e não pelo conteúdo. É normal.
Mas o destrato que recebi, o desdém com que comigo falou, o assumir-me como total ignorante, pese embora tivesse pendurada no ombro um DSLR…
Já antes tinha decidido ali não voltar. Hoje foi um descuido. E hoje reitero a minha vontade de ali não tornar a pôr os pés.
Só nada disse junto do chefe da secção ou do gerente porque, e tenho a certeza, qualquer um deles me trataria da mesma forma.
Falo do “El Corte Inglês”, o local que entendo por ser o “pináculo do pedantismo”.

Os meus “melhores cumprimentos” a estes cavalheiros, cujo apelido mais simpático que me ocorre é “sacripantas”.

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Códigos



Neste mundo em que vivemos, as diferenças culturais são mais que muitas e bem evidentes: a língua, as danças, a gastronomia, os trajes, a mitologia…
Viajar de um ponto para outro distante pode ser pouco menos que um salto no escuro. A capacidade de comunicação fica reduzida a muito pouco, se não se dominar a língua, escrita ou falada. Sobram dois recursos, mais ou menos globais: o gesto e a imagem, desenhada ou não.
Esta é, sem sombra de dúvida, a parte da comunicação mais universal. Um cavalo é um cavalo, na Europa, Ameríndia ou Ásia. Com excepção de alguns pontos ainda não penetrados pela “civilização”, quem souber usar a imagem, sabe comunicar.

Mas os padrões não são iguais. Há algumas diferenças, ainda que subtis, dividindo o planeta em alguns grandes blocos. Quer tenha sido o desenho que influenciou a escrita (fonética ou ideográfica) ou vice-versa, a verdade é que a forma como a imagem se estrutura no espaço que ocupa varia.
Horizontal ou vertical, esquerda/direita ou ao contrário, a organização dos elementos pictóricos tem regras e significados diferentes.

A globalização (que não apenas económica mas, e principalmente, cultural) tende a padronizar estes aspectos, tal como outros. Mas a cultura não é algo que se imponha por decreto, como provou a falhada revolução cultural chinesa.
Se na fotografia, cinema e televisão, áreas que além de criativas são também bastante técnicas, no quotidiano, na vida diária de cada um, as coisas são um pouco diferentes.
A imagem acima é disso um exemplo. É uma nota Afgã, divulgada por cá através de um jornal.
Os códigos de escrita estão bem definidos. Escrita regional, para os locais entenderem, e caracteres mais ou menos universais para definir valor e origem. Até aqui pouco há de invulgar.

Mas observem-se os desenhos, os cavalos em particular. Correm da direita para a esquerda, num galope livre e intenso.
Uma leitura superficial pouco os dirá mas, a nós, ocidentais, mas não nos agradará. De acordo com os nossos padrões, correm “para trás”, uma atitude retrógrada. Poderíamos mesmo dizer que estão a fugir de algo. Mas para os Afgãos, onde a escrita e a leitura se fazem da direita para a esquerda, este é o sentido da liberdade, do progresso, do futuro.
Esta imagem será, eventualmente, evocativa de um qualquer momento histórico local, que dificilmente será o de uma derrota militar. A interpretação dos utilizadores desta nota será a de confiança e de confiança naquilo que o dinheiro significa.

Para aqueles que como eu vivem e dependem da imagem, esta questão de orientar os elementos que a constituem para um lado ou para o outro é banal. Fazemos isso quase que por instinto, usando-o como uma ferramenta de base.

Mas convém sempre lembrarmo-nos que os nossos códigos não são universais e que a nossa comunicação depende da nossa capacidade em usar uma linguagem conhecida e familiar do destinatário.

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Seis e meia



E depois é aquela sensação tramada de um tipo que se deita sabendo que não tem hora marcada para acordar e que, às seis e meia, acorda sem sono.

Há dois momentos em que dá vontade de partir o despertador: quando ele toca e quando ele não toca.

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quarta-feira, 28 de maio de 2014

As duas faces



Está um montão de gente, hoje, a falar na eventual candidatura de uma pessoa à liderança de um partido político.
Por “um montão de gente” entenda-se os membros desse partido, membros de outros partidos, simpatizantes desse e de outros partidos, jornalistas e cidadãos que nada têm a ver com partidos.
Esquecem-se todos eles de alguns factos que convém esclarecer.
Os partidos políticos são entidades privadas. Só pertence a um partido político quem nele é aceite ou assine uma declaração de fidelidade.
O que acontece dentro desse partido é problema desse partido. Quem o lidera é escolhido pelos seus membros e militantes, de base ou de cúpula, sem que os de fora possam ou devam “riscar” o que quer que seja.
O papel de líder de uma partido, seja ele qual for, não é sinónimo de obvio primeiro-ministro caso o partido ganhe as eleições. O lugar de primeiro-ministro é ocupado por quem o Presidente da República nomear, a partir ou não do partido que mais votos obtenha para o parlamento. Por outras palavras, ao votar-se num partido não se está, por força de lei, a votar num primeiro-ministro.
O líder de um partido não é o definidor da linha de actuação do partido. Presume-se que um partido político seja um conjunto de pessoas que partilham de um mesmo ideal político. Um partido não é uma pessoa.

Posto tudo isto do ponto de vista teórico, vejam-se as práticas.
Um partido que ganhe as eleições parlamentares seguirá as linhas ideológicas partidárias. Assim, se supondo que se trata de um partido democrático, seja qual for o líder, as políticas que o partido porá em prática serão as mesmas, já que baseadas na vontade dos seus membros.
E isto tem-se constatado ao longo dos anos, na alternância partidária governamental. O partido A segue uma linha ideológica seja qual for o seu líder, o partido B segue uma outra linha ideológica, seja qual for o partido.
Em boa verdade, as linhas ideológicas têm-se aproximado entre o partido A e o partido B, esteja quem estiver nas suas lideranças.

Portanto, postas as questões teóricas e as práticas demonstradas, para que raio estamos a discutir ou aventar hipóteses sobre a liderança de um dado partido?
Serão sempre farinha do mesmo saco, dois lados de uma mesma moeda, seja lá quem for que esteja na caixa.

Talvez que faça sentido, se os Portugueses querem alterar de facto algo neste país, modificar opções eleitorais. Porque do partido A, do partido B ou mesmo do partido C já sabemos o que vem. E não tem sido nada de bom, caramba!

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Liberdade



Quem é ele? Confesso que não recordo o seu nome.
Recordo apenas o local e a história.

Acampamento circense na praça de touros do Campo Pequeno em Lisboa, por alturas do natal.
Acompanhei um amigo jornalista para fazer a reportagem sobre esta forma de arte. A mais detalhada foi sobre este palhaço.
Já teria passado os 60 anos, quase de certeza. Toda a sua vida fora palhaço, sempre em circos de terra em terra.
Entre as muitas que contou, ficou-me apenas esta:

O circo fora em digressão ao Açores. É complicada a logística de levar um circo a um arquipélago. Assim, seguiram apenas as tendas dos espectáculos e as viaturas para os animais. As residências (tendas e roulotes) dos artistas e demais técnicos ficariam cá e por lá dormiriam em pensões.
Este palhaço não se aguentou.
Foi incapaz de dormir em quartos feitos de pedra.
Atabafava, não respirava, sentia-se mal.
Interrompeu a digressão e regressou ao continente.

Naquele espaço exíguo onde nos recebeu orgulhoso, a sua casa sobre rodas, apinhada com quase todos os objectos habituais numa residência acrescidos dos do ofício de palhaço, senti-me mal. Preso a convenções, amarrado a hipotecas, dependente de cartões e números impressos…

Lembrei-me, na altura e agora, de uma outra história que se contava sobre o maestro José Atalaya:
Quando afastado de sua casa, dormia numa auto caravana. Todas as noites decidia onde queria acordar no dia seguinte e de onde queria ver o nascer do sol.


Quem diz que a felicidade passa por um palácio com muitos quartos, brocados nas janelas e cobertas de seda?

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Aviso



Quantas pessoas vivas há que se recordem de como começou a saudação de mão estendida e levantada na Europa?
Poucas, certamente.
Mas uma boa parte dos europeus de então consentiu o que aconteceu e a seguir.
Tu também estás a consentir!
Hoje!
Agora!

Não te queixes amanhã!

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Doi-me a alma



Ex-Armazém de atoalhados

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Convenhamos



O raio do carro está mesmo muito mal estacionado.
E este tipo de coisas faz-me sair do sério.
É que não está bem simétrico nas riscas definidoras da passagem de peões.
E mal tinha eu acabado de fazer a foto, surge o respectivo condutor que, olhando para mim e para a câmara, se mete no carro rapidamente.
Eu a pensar que ele ia corrigir a situação e… então não é que se pirou?!

Nem deu tempo p’ro registo da matricula.

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Fui ao médico



Fui ao médico.
Para os que possam ficar preocupados, não fiquem: não passou de uma daquelas idas regulares, umas daquelas em que nos asseguram que não somos eternos e que, mais cedo ou mais tarde, alguma maleita teremos.
Vim de lá saber mais ou menos o que sabia, pelo que nem seria coisa digna de nota. Excepto…
Há sempre um excepto, mesmo nas coisas mais rotineiras, felizmente.
A instituição a que fui era, para mim, uma estreia. No âmbito da medicina no trabalho, a minha empresa mudou de prestador de serviços. Toda bonita, modernaça, com um aspecto asséptico e mocinhas novitas na recepção.
E sendo “cliente” novo, havia que fazer ficha nova: nome, idade, morada, telefone…
Foi aqui que a porca torceu o rabo!
“Não tenho.” Disse eu.
“Não tem telefone?!” exclamou ela.
“Na verdade tenho, mas não quero que fiquei aí, nessa base de dados.” Esclareci, já habituado a ver olhos tão esgalgueirados como os dela.
“Mas… é de preenchimento obrigatório.”
“Nesse caso vou-me embora, que não lho direi.”
Foi nessa altura que surgiu uma mais velha, talvez a chefe de turno, que lhe disse à boca pequena:
“Se não quiser dar, não dá.”

Nos tempos que correm parece ser obrigatório ter telefone. Móvel, de preferência. É menos chocante associar a minha idade ao meu estado civil, ou saber-se que não possuo carta de condução que saber que alguém decide, em consciência, não fazer parte de uma base de dados. Mesmo que apenas pelo telefone.

Mas se fosse importante para mim o não chocar os demais com as minhas preferências, exigências mesmo, eu não seria eu: seria qualquer outro, com outra forma de viver.

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Caramba!

Entenda-se de uma vez por todas:
A fotografia é analógica, seja qual for o método ou tecnologia empregue!

Existe sempre analogia (semelhança, reciprocidade) entre o registo e o registado. Existe sempre a bi-dimensionalidade do registo, mesmo em imagens 3D.
E existe sempre a necessidade de transformar o registo em algo visível.
Nalguns casos haverá que tratar quimicamente o suporte, criando o negativo e positivando-o. Ou invertendo quimicamente o negativo e criando um diapositivo.
Noutros casos haverá que converter os registos magnéticos do cartão ou disco, fruto dos impulsos eléctricos gerados no sensor, para suportes luminescentes (ecrãs) ou reflectores (papel).

Mas seja qual for a forma de fazer fotografia, ela é, por definição, uma analogia do assunto, algo que se assemelha mas não iguala o assunto registado.
Uma por processos foto-químicos, outras por processos eléctricos.
Mas todas são analógicas!

Caramba!

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Gosto de fotografia



O que eu gosto de fotografia!
Da fotografia dos outros.
Da fotografia feita pelos outros!

Comecei a fazer fotografia publicitária bem cedo. Um convite de um laboratório farmacêutico levou-me a pedir uma câmara emprestada. Uma MPP, 9x12, velhinha e em mau estado, mas que deu conta do recado.
Assim que pude, comprei outra. Desta feita uma Linhoff Cardan Collor. Uma objectiva 150 f/5,6 (Xenar, salvo erro) e dois chassis duplos completavam o conjunto.
Mas a paixão pelas câmaras view assolou-me. Uma oportunidade única na vida surgiu-me e comprei uma outra Linhoff, uma Technika 70. Com chassis para película rígida 6,5x9 e para película 120.
Pude, assim, partir para a paisagem urbana com as correcções de perspectiva e profundidade de campo que pretendia. E em versão portátil. E entrar a fundo no Zone System, já que os chassis 6,5x9 permitiam-me expor e revelar cada negativo individualmente, controlando assim todo o processo, desde a visualização do assunto até à impressão final.
Para tal, tive que comprar um ampliador compatível com este formato. Não foi fácil, mas lá encontrei um velhinho Meopta Magnifax, com o seu chapéu de fada, que satisfazia quase todos os requisitos.

Em conversas orgulhosas sobre este “up-grade”, uma companheira trouxe à baila um tema interessante: possuía ela uma colecção de negativos de família, alguns bem antigos. Poderia eu imprimi-los?
Acedi à proposta, pelo menos para ver de que se tratava. Ela voltou, dias depois com o material. Uma caixa, maior que de sapatos, repleta de negativos. Muitas centenas. De todos os formatos, alguns ainda em vidro. Até ao minúsculo 110.
Tarefa ciclópica que aceitei, sem prazos para cumprir, que aquilo merecia um tratamento cuidado. E o fazer de algumas peças para aqueles formatos incomuns.

Foi um prazer digno do Olimpo. Uma por uma, as imagens formavam-se na prancheta do marginador, em papel 9x12. E positivavam-se nas tinas, sob a luz vermelha. Toda aquela família estava ali representada, alguns da infância à velhice.
A dado passo, já os reconhecia em tons invertidos, inventando-lhes nomes e relações familiares: “Este casou com esta, é irmão daquela e filho do outro…”
Os trajes, os penteados, os adornos, os veículos, as baixelas e as decorações das festas e residências, foi pouco menos de um século que viu a luz do meu ampliador. Outras vivências, outros olhares. Para a objectiva, fugindo da objectiva ou através dela.
Foi francamente melhor que qualquer filme dinástico. Os actores eram reais, as situações nada ficcionadas e os efeitos os da natureza e não os de um técnico habilidoso.

É por essas e por outras que gosto de fotografia.
Das dos outros.
Das feitas pelos outros.
É um mundo mais ou menos real, que me é mostrado, nas exposições, nos álbuns de família, nos livros. Contam-nos como o ser humano vive, na realidade truncada pelo fotógrafo.
Cada fotografia que vemos completa-se com a nossa própria memória, colorindo com os detalhes que não vemos, os sons que não ouvimos. É uma vivência emprestada que se experimenta ao ver as fotos feitas por outras pessoas.
A cada fotografia feita por outrem, por muito “amadora” que seja, fico mais completo.
Muito mais rico!



Imagem: roubada da net
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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Tempo



Enquanto cuidava do jantar, olhei para o contador de tempo.
Nem sei bem porquê.
O diabo do aparelho está parado há bem mais de três anos. Com o passar do tempo, tenho vindo a esquecer de lhe pôr a pilha e assim vai ficando. Marcando um momento, com a certeza de estar certo com algum ponto do globo.
Apercebendo-me da inutilidade do gesto, olhei para o outro marcador de tempo. Gesto inútil.
Só funciona quando o invertemos, ficando nós quase que hipnotizados com o cair da areia de um parte para a outra. E não lhe toco há uns dias, aquando da última vez que fiz esparguete aqui em casa.
Porque, em verdade, só uso a ampulheta para isso: cinco minutos de cozedura, mesmo que as outras duas areias, de cor diferente, marquem quatro e três minutos. O que demais confecciono é a olho ou em função do evaporar da água ou da cor que toma.
Tentei uma terceira referência temporal. Desta feita auditiva.
Da sala, o televisor jorrava imagens sem que ninguém as visse. Os sons, esses, diziam-me que ainda não havia começado o noticiário. Há que saber a que horas começa o noticiário. Não sei quanto falta, mas sei que ainda não passa.
Depois… bem, depois pensei para com os elásticos, que botões não tinha: Para que raio quero eu saber as horas? Comerei quando estiver pronto e nem um segundo antes. Levarei o tempo necessário para que se mastigue e engula, quiçá dando algo que fazer ao palato. E quando acabar a refeição acabo-a. Nem antes nem depois.


Uma vez mais agradeci à minha distracção o ainda não ter colocado pilha no malfadado aparelho. Ao menos aqui o tempo é meu e nunca o que me impõem.

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Medo

“Mantermo-nos unidos como europeus é indispensável para que a Europa dê forma a uma ordem global em que possamos defender os nossos valores e interesses”

Só para que conste, estas palavras foram proferidas por Durão Barroso, na sua qualidade de presidente da comissão europeia e a propósito das eleições de ontem.
Esta expressão “ordem global” faz-me recordar qualquer coisa, num extremo ou no outro (ou nos dois) do espectro político dos últimos cem anos.

E fico com medo!

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Guerras



Certo! Não sou de alimentar publicidades nem guerras entre colossos.
Mas certo é também que alguns publicitários conseguem ser de um humor para além do previsível, levando-nos a sorrir enquanto eles se batem por mais alguns clientes roubados à concorrência.
Claro que nesta guerra, a terra de ninguém são os clientes, com as munições, balas perdidas e tiros de obus a caírem em cima dos palpavos que são os que alinham nestas propagandas.


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Brincando com coisas sérias

Interessante mesmo é constatar como esta manhã tantos eram os que, em esperando um comboio, aguardavam com as mãos nos bolsos.
Será que, e perante o que se constatou dos resultado eleitorais de ontem, cá e pelo resto da Europa, estão todos com medo de mais roubos legais e generalizados?

É bom que se precavenham, mas tenham calma, que ainda não tomaram posse.
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Ofícios



Quem é que, num fim de tarde dominical, quer engraxar os seus sapatos?
Ainda se fosse de manhã, antes do acto solene cívico ou da missa…
Ainda se fosse num fim de tarde, antes de ir para uma qualquer festarola, pública ou privada…
Ainda se fosse antes de ir para uma qualquer reunião, e por aqui viesse com os do chefe…
Agora num fim de tarde de domingo…

Só se for para aproveitar a luz e o calorzinho simpático, de permeio com dois dedos de conversa.

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domingo, 25 de maio de 2014

Por vezes os dias fecham bonitos.



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Doeu-me



Doeu-me! Juro que me doeu até ao tutano!
Eu a chegar àquele pseudo-reservado que é a cabine de voto, e um senhor junto a ela, com ar de quem está confuso.
Um bom bocado mais velho que eu, as cãs contrastavam com a tês escura e rugosa. As suas roupas, limpas, pediam meças na idade com quem as usava. Numa mão o boletim de voto ainda por dobrar, na outra a caneta. E olhava para o papel com os olhos bem abertos.
Quando me aproximei para fazer o que ali me tinha levado, pergunta-me ele, com ar atónito:
“Desta vez não concorrem?”
“Perdão?”, disse-lhe.
“O PSD. Não o encontro aqui na lista.”
“Ah! Desta vez concorre em coligação. Olhe: Está aqui, vê?” e apontei-lhe a linha e os símbolos.
“Pois é. Obrigado.” e virou-se para a pequena prateleira para fazer na privacidade aquilo que anunciara aos quatro ventos.
Doeu-me!
Doeu-me ver aquele idoso ir votar por seguidismo, ignorando por completo as propostas do partido em que quer votar.
Doeu-me ver aquela pessoa que, pelo aspecto e idade, mais tem sofrido que beneficiado com as decisões e governação daquele partido. E que, apesar disso, insiste.
Doeu-me ver-me na contingência de indicar a alguém o como votar naqueles que eu quero correr do panorama governativo.


Por vezes, ser coerente na prática da cidadania é bem doloroso!

By me

Ao menos...



O João era pessoa muito religiosa. Todas as noites, antes de se deitar, rezava as suas orações, agradecendo as benesses, pedindo perdão pelos pecados e fazendo, todos os dias, o mesmo pedido: Que lhe saísse o totoloto ou o euromilhões.
Todos os dias o João pedia o mesmo. Anos a fio.
Uma noite, estava ele a rezar, aparece-lhe o Anjo Gabriel. Flamejante, disse-lhe:
“João! O teu pedido foi concedido. Esta semana vais ganhar o euromilhões. Mas ao menos joga, certo!?”

E você, que se farta de protestar contra os governantes que temos tido?



By me

Hoje



Quando hoje forem votar, lembrem-se que a maioria dos eleitos têm o comportamento de pombos:

Antes das eleições vêm comer à mão, depois, lá do alto, borram em cima de nós.

By me 

sábado, 24 de maio de 2014

1999



Esta é uma das últimas moedas de escudo a ser cunhada.

Alguém dá pela “barraca”?

By me

Em dia de jogo



A melhor hora para, num fim de tarde, ir tomar o café aqui no bairro é quando o jogo de bola do dia está a ser transmitido numa estação em sinal aberto.
Dos três clientes que lá estavam, uma raspava uma raspadinha, os outros olhavam para um ecrã, com uma mini à frente. Não sei se ali estavam por via da mine se por não terem tv em casa.
Cá fora, um pimpolho preferia ser ele a jogar, em vez de ver os outros a pontapear a bola. Mesmo sozinho, estava divertidíssimo.
Por mim, foi preciso ir tomar uma bica para confirmar que é o Real Madrid que usa nas camisas os nomes e números dos jogadores em fonte “Comics Sans”. Ou muito parecido.
Não que isso seja muito importante, mas faz parte de uma conversa de surdos entre mim e uma amiga. Que ela acha que esse tipo de letra é o píncaro do mau gosto, enquanto que eu gosto dela para usar no que escrevo.
Divergências esclarecidas, imagine-se, por via de um jogo de bola.

Já o garoto, esse, nem usava bola oficial nem tinha número nas costas.

By me 

Reflectir



Só para que conste, no dicionário on-line “Priberam” encontro isto:

REFELCTIR
(Latin reflecto, -ere, voltar para trás, dobrar)

Verbo transitivo
Reenviar
Repercutir, reverberar
(figurado) Revelar, traduzir, dar a conhecer

Verbo intransitivo
Mudar de direcção, incidir
Pensar com detenção e mais de uma vez, reflexionar

Verbo pronominal
Ser reflectido
Incidir, recair
Transmitir-se, repercutir-se


Gosto muito do verbo intransitivo, nos seus dois significados!


By me

??????

É uma e meia da manhã e supõe-se que esteja em reflexão há 90 minutos, preparando-me para domingo.
Só não sei sobre o que deverei reflectir, se retirar toda a roupa suja, toda a canalhada e toda a chicana pública que aconteceu.
Propostas práticas, viáveis e construtivas…

Não dei por nada.
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sexta-feira, 23 de maio de 2014

O arqueiro



A história conheço-a mais ou menos assim:

Um jovem arqueiro, o melhor da sua aldeia, quis ser melhor ainda e foi ter com um mestre arqueiro, que vivia isolado no alto de uma montanha.
Perguntou o jovem:
“Mestre: como consigo atingir a sua perfeição?”
“Consegues”, disse o mestre, “fazer chegar a tua flecha tão alto quanto o voo de uma águia?”
“Mas mestre, isso é quase impossível!”
“Quando o conseguires vem falar comigo.”
O jovem voltou para a sua aldeia e praticou, praticou, praticou. E voltou à montanha.
“Mestre: a minha flecha já vai tão alta quanto o voo da águia. Vê.” E disparou uma flecha.
“E consegues acertar na águia?”
“Na águia, mestre?! Mas mal a vejo lá no alto!”
“Quando conseguires acertar com a tua flecha na águia, vem falar comigo.”
E o arqueiro regressou à sua aldeia e praticou, praticou, praticou até que já conseguia acertar na águia, que mal se via lá no alto.
“Vê mestre: já consigo acertar na águia com a minha flecha!” E mostrou-lho.
Sorrindo, perguntou-lhe o mestre:
“E consegues acertar na águia sem flecha?”



Por mim, ainda estou a tentar perceber como raio se segura no arco.

By me