quinta-feira, 15 de maio de 2014

Pontos de vista panorâmicos



Eu não gosto do formato de três por quatro da TV, nem do formato convencional do cinema ou dos 24 por 36 mm da fotografia. E menos ainda o formato quadrado!
São proporções artificiais, que em pouco ou nada correspondem àquilo que vemos.
E se aquilo que vemos, do ponto de vista fisiológico, é redondo e num ângulo muito estreito, da ordem de poucos graus, o nosso acesso visual ao mundo baseia-se no varrimento que fazemos nele com os olhos. Para já não falar visão periférica e tudo o que ela implica a nível dos instintos e da sobrevivência do animal.
Mas o varrimento visual que fazemos do mundo que nos cerca é essencialmente horizontal. Aquilo que está ao nível da nossa cabeça.
Quer seja para nos acautelarmos com perigos, quer seja para nos aproximarmos do que nos interessa: Alimentação, relações sociais, objectos cobiçados.
O nosso varrimento na vertical é pouco expressivo: olhamos para baixo para detectarmos obstáculos no caminho e para cima para ver se chove ou se existe algum pássaro pouco simpático. Nada mais.

Na representação gráfica do que nos cerca, fazemos o mesmo. A menos que estejamos limitados por um formato do suporte (um painel para pintar ou uma folha de jornal para ilustrar) a esmagadora maioria das imagens são feitas na horizontal. Porque se aproximam do que vemos.
Claro que há outro tipo de limitações, como sejam o assunto a representar. Se ele for vertical (uma figura humana ou uma árvore) se o quisermos fazer tão grande quanto possível e excluirmos o que o circunda ao máximo, pois o normal é recorrer ao formato vertical.
Mas estas são excepções. Que a maioria das imagens que fazemos são horizontais.

É por isto que desde cedo se começaram com representações fotográficas bem mais largas que altas: a fotografia panorâmica e as respectivas câmaras. No cinema, surgiu o Cinemascope, o Widescreen e outros, sempre com a ideia de representar aquilo que era visto como era visto e não agarrados a uma formato pouco menos que quadrado.
Mas isto é complicado, do ponto de vista técnico: objectivas anamórficas para a captação e reprodução, objectivas rotativas e película encurvada para a fotografia… Difícil de manobrar pelo amador, caro de reproduzir e comercializar para a indústria. No caso da televisão mais complicado se torna, com a alteração dos sistema de captação e tratamento, por um lado e de recepção doméstica por outro.
A fotografia digital veio introduzir alterações e facilitar a vida dos fotógrafos.
Não apenas as próprias câmaras permitem captar imagens preparadas para serem “coladas” posteriormente como ainda os sistemas de edição de imagem, alguns muito simples, permitem fazê-lo sem grandes complicações.
No caso da TV, com o advento dos sistemas digitais e da alta resolução, em breve o formato tipo será o 16 por 9, bem mais próximo da nossa realidade visual.

Pela parte que me toca, em fotografia, não uso os sistemas panorâmicos existentes.
Usando as ópticas e os ângulos convencionais e disponíveis no mercado, aquando da tomada de vista faço um enquadramento mental daquilo que o visor me mostra. Mais tarde, dantes no ampliador do laboratório agora no computador, reproduzo essa imagem que compus mentalmente. Mais detalhe, menos detalhe.
Se eu encontro satisfação no resultado final ou não, isso já é outra coisa.
Condicionados que estamos pela cultura visual do séc. XXI, no cinema, na TV, nos formatos apresentados pelos laboratórios fotográficos industriais, pelas publicações periódicas, deixamo-nos levar na onda.
Mas a experimentação, pessoal ou tertúlica, permite-nos partir para outros voos, para outras formas de expressão pessoal. Nalguns casos chamam a isso de arte. Na esmagadora maioria restante, de quebra de regras ou extravagâncias.


Seja como for, aqueles que fazem da representação bi-dimensional da luz a sua paixão, devem passar por isso. Quanto mais não seja para poderem dizer que não gostam!

By me

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