quarta-feira, 2 de março de 2011

Os tremoços



A manhã fora comprida. Tão comprida que quando decidi almoçar já aquela cervejaria/restaurante tinha a cozinha fechada.
Sentado ao balcão e confrontado com essa informação, optei por um fast-food tipicamente tuga: um prego e uma imperial. Claro que enquanto esperava por aquele veio esta, que com sorte haveria de beber antes daquele terminar e sempre pediria outra. Pontos de vista de quem está atrás do balcão.
E, com ela, veio isto: um pratinho de tremoços. À borla e sem que os houvesse pedido. Vai já sendo raro encontrar disto e, em conversa posterior com companheiros, confirmei a raridade.
Confrontado com eles, lembrei-me de uma historieta, velha como… como… como… bem, não será velha como o mundo mas tem umas dezenas de anos garantidos, tantos que fazem inveja às minhas barbas.
Rapei do telemóvel para um registo sem consequências, apenas pela piada. E estava eu a tentar fazer uma tarefa quase impossível (acabei por usar a DSLR) quando o empregado, que conheço naquele balcão quase desde os meus tempos de escola, afirma bem alto para que os outros dois clientes ali sentados ouvissem:
“Alto, que se está a mandar uma fotografia para Moçambique!”
Tinha que me rir. Garantidamente tinha que me rir!
Tal como eu, também ele se lembrava daquela velhíssima afirmação “O marisco que mais gosto é o tremoço!”, proferida por um famosíssimo cidadão Português ligado ao futebol.
Os outros dois comensais olharam para o que acontecia e riram-se também, irmanados no humor e nas recordações.
Ficámos os quatro ali por uns instantes com uns sorrisos nos lábios, sem que eu soubesse ao certo que outras recordações os tremoços, o Benfica e aquele jogador lhes traziam.
Certo é que o meu sorriso tomou uns laivos de ironia, já que seria mais que certo que, dos quatro, seria eu o único a não me importar um pingo com a bola e as clubites.
Entretanto veio o prego, uma segunda imperial e rematei com um café.
Com os fast-food franshisados e os centro comerciais, esquecemos as mais das vezes o que de bom temos por cá: os nossos próprios petiscos e refeições ligeiras e rápidas, os balcões corridos de pedra genuína, com bancos de pé alto, e as conversas que surgem a troco de quase nada, curtas como uma piada ou longas em torno de um qualquer tema comum.
Viva o fino e o tremoço e quem os apoiar!

Texto e imagem: by me

1 comentário:

Anónimo disse...

E é pena que não se possa também fumar, enquanto sentados junto a esse balcão de pedra, tomamos a bica, acompanhada pelo digestivo, ao mesmo tempo que se dão dois dedos de conversa com o empregado do outro lado do balcão, que o vai limpando com um pano que trazia em cima do ombro.