domingo, 19 de junho de 2011
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Os etimologistas perguntam-se porque é que o termo “leiche” acabou por assumir o significado de cadáver que é o sentido que a palavra tem hoje em Alemão. Também aqui a evolução semântica é, na verdade, perfeitamente compreensível: o cadáver é por excelência aquilo que tem a mesma figura. Isto é tão verdade que para os romanos o morto se identifica com a imagem, é a “imago” por excelência e, vice-versa, a “imago” é antes a imagem do morto (as “imagines” eram as mascaras de cera dos antepassados que os patrícios romanos guardavam nos átrios das suas casas). De acordo com um sistema de crenças que caracterizas os rituais fúnebres de muitos povos, o primeiro efeito da morte é o de transformar o morto num fantasma (a “larva” dos latinos, o “eidõlon” e o “phasma” dos gregos), ou seja, num ser vago e ameaçador que continua no mundo dos vivos e regressa aos lugares frequentados pelo defunto. O intuito dos ritos fúnebres é precisamente transformar este ser incómodo e ameaçador, que obsessivamente retorna, num antepassado, ou seja ainda numa imagem, mas benévola e separa do mundo dos vivos.
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Ensaio by: Giorgio Agamben, in “Lighten up” by João Onofre
Imagem: me by Diana Serrão
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