quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O saco



Recordo ter lido, há uma catrefada de anos, um livro de banda desenhada com uma estórinha bem interessante.
O universo era o Disney, a ambiência era “A Patada”, um jornal dirigido pelo Patinhas e tendo como jornalistas/repórteres o Peninha e o Donald.
No caso em causa, foram estes encarregues de fazer uma reportagem sobre a interacção entre as pessoas. Só que o Donald dizia que as pessoas não interagem e o Peninha afirmava que sim.
Para demonstrar que sim e que as pessoas falam mesmo com desconhecidos, chegou a uma paragem de autocarro e colocou-se no primeiro lugar, dizendo para os restantes: “Desculpem, mas estou com pressa.”
Logo os presentes começaram a protestar, a insultar, a conversar entre si, contando episódios equivalentes e o que havia sucedido…
Já de parte, o Peninha comentou para o Donald: “Vês?!”

Nunca me esqueci desta estórinha e desta análise de comportamento. E, quando tenho oportunidade, gosto de a por à prova. E ontem foi um desses dias.
Mandei imprimir diversas cópias da fotografiazinha que ali vedes e colei-a nas asas de sacos de papel que comprei para o efeito. Assim.
Dentro de cada saco coloquei uma pequena embalagem de umas queijadas de amêndoa, compradas no supermercado. Não tem nenhum significado o facto de serem queijadas ou de amêndoa. Apenas que foram baratinhas.
No verso de cada fotografia escrevi: “Boas festas e feliz Solstício”.
Feitos oito conjuntos, pendurei um em cada porta de apartamento no andar em que vivo, incluindo a minha. Fiz a coisa pela uma da manhã, no maior silêncio para que não dessem por mim, nem mesmo o cão de um vizinho.
Quando hoje saí de casa, perto do meio-dia, já só restava o da minha porta. Indicação que foram vistos pelos locatários ao saírem de casa e não meramente palmados.

Esperava eu que, em havendo algum tipo de reacção pública a tal insólito, acontecesse no regresso de toda essa gente, à tardinha ou noite. E que algum vestígio sobrasse pela meia-noite e muito, a minha hora de regresso.
Coisa nenhuma. Nada. Zero. Vazio total.

Tiro por conclusão que só na banda desenhada o Peninha acerta e que os cidadãos cada vez menos interagem, mesmo quando provocados anonimamente.

Nem quando confrontadas com uma figura mitológica ou com o Solstício, que 95% das pessoas não sabe o que é.

By me

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