domingo, 21 de setembro de 2014

Clássicos



O dia estava a acabar bonito. Não esplendoroso, mas bonito, ameno, cálido mesmo, sem que uma aragem perturbasse o subir do fumo do cigarro.
Mandam as rotinas aqui de casa que, mesmo que seja só para tomar um café, se saia de casa com a câmara. As mais das vezes regressa sem uso, mas nem sempre, que há esta ou aquela suspeita que nos conduz a caminhos não rotineiros. Foi o caso.
E por entre as nesgas dos prédios de um dormitório suburbano lá consegui fazer um clássico. Fosse eu a decidir, e as nuvens e o sol assumiriam outras posições em relação às folhas, mas não sendo eu o decisor, tive que me contentar com o que dispunha.
Um clássico, nem bom nem mau, apenas um clássico.
De regresso a casa, o cigarro continuava a fumegar a direito e quedei-me a terminá-lo à porta. Que diabo, mesmo não vendo o sol mas tão só o que ele conseguia mostrar por entre as nuvens, há sempre cores e nesgas que nos atraem.
Estava eu nesta atitude clássica de esperar algo de mais fotografavel, e entram no prédio três casais meus vizinhos. “Boas tardes”, como se impõe, “Está a ficar um fim de dia bonito” de complemento.
Cumprimentos igualmente clássicos entre gente urbana e discreta.
Quando, fumado o cigarro e acabado o sol, entro no prédio para subir até casa, outro clássico: os três elevadores pacatamente parados nos últimos e penúltimos andares, pisos de residência daqueles vizinhos.
É já um clássico, o usar o elevador sem pensar em quem venha atrás. Aliás, o grande clássico é usar a porta e não esperar por quem caminha atrás, mas o dos elevadores é clássico.
Tal como é clássico o que fiz de seguida: chamei um, onde subi, e garanti que todos eles três regressavam ao piso zero, por onde entram todos os residentes. No fim de contas, todos gostam, como eu gosto, de ter um elevador à nossa espera em chegando a casa.
Foi um fim de tarde domingueira clássica: uma fotografia clássica, uns cumprimentos de circunstância igualmente clássicos e o ignorar por completo quem mais existe neste mundo ou mesmo no mesmo prédio.

E foi um clássico o eu largar três palavrões bem portugueses e desfazer o egoísmo convencional e clássico da vizinhança.

By me 

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