É assim a modos
que uma mania minha, velha de muitos anos:
Não sou capaz de
vir à rua, mesmo que seja só para pôr o lixo no contentor, que não traga uma câmara
fotográfica comigo.
Sentir-me-ia como
se viesse nu, que querem.
Pois ontem, já ao
fim da tardinha, ou mais que isso, fui buscar pão para o jantar. Mas o
lusco-fusco estava tão agradável que fiz uma paragem p’lo caminho para uma
imperial. Não que seja meu hábito, mas apeteceu-me.
Peguei nela e vim
cá para fora, que era aí mesmo que me sabia bem estar, naquele cálido e parado
ar, a ver o fim do dia a escorrer p’las fachadas.
E, em olhando p’ra
cima, vi isto e não resisti. Pousei o copo numa mesa e fui, fotógrafo maneta
que estou, à procura do ângulo certo.
Passinho p’ra
aqui, passinho p’ra ali, até encontrar os tamanhos relativos que queria. Fiz duas:
esta e uma outra, vertical, só por descargo de consciência, que sei não gostar
delas dessa forma. Mas o poste é ao alto pelo que haveria que, ao menos,
tentar.
Quando acabei, e
estive uns 4 a 5 minutitos de volta disto, voltei para trás em busca da minha
cerveja, não fosse o empregado vê-la assim, abandonada e meio bebida, e levar
tudo de volta. Ainda lá estava.
E estavam também
aqueles sorrisos que tão bem conheço, de condescendência, nos rostos dos demais
que por ali estavam. Tal como estariam nas cabeças deles a pergunta
sacramental: “O que estará aquele maluco das barbas, e agora de braço ao peito,
a fazer, a fotografar o céu sem tripé, e logo agora que não se vêem ainda as
estrelas.
Como estavam
enganados. A estrela estava lá, escondida e tímida, atrás do poste. Eles é que,
coitados, não sabem ver o que está à frente do nariz ou no alto da testa.
Depois, comprei o
pão, fui p’ra casa e jantei.
By me
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