segunda-feira, 26 de março de 2012

Manias




Admitamos que a mocinha teve azar. Com tantos clientes e logo lhe havia de calhar eu na rifa.
Nunca a tinha eu visto ali, e sou cliente mais ou menos assíduo desta casa de hambúrgueres. Que, em estando bom tempo, se pode vir para a esplanada e fumar um cigarrito ainda antes de nos levantarmos da mesa.
Mas como de pequenino se torce o pepino, exactamente por ser a primeira vez que me atendia, ataquei a fundo.
Quando empurrou ligeiramente o tabuleiro na minha direcção, depois de pago e com tudo em cima, fiz uma pausa, olhei para ele, olhei para ela e, com o ar mais ingénuo deste mundo, perguntei-lhe:
“Desculpe. Tenho um aspecto assim tão porco e imundo?”
A sua pele negra ficou quase da cor dos guardanapos e titubeou nem sei o quê, que não percebi. E continuei:
“É que, sabe, não são precisos tantos guardanapos. Pelo menos para mim.” E, pegando nos dois de cima, acrescentei: “Vá, guarde lá esses.” Seriam uns sete ou oito, a olho.
Guardou-os sob o balcão, enquanto argumentava:
“Ah, sabe, é o hábito…”
“Pois, mas não passa de desperdício. Veja bem quantas folhas de árvore acaba de poupar!”
E segurando com a mão boa o tabuleiro, enquanto o apoiava na outra, afastei-me. Não sem antes ter visto, pelo canto do olho, que a colega dela na caixa do lado sorria, porque não poderia rir francamente. É que já me conhece há anos e, isso já eu reparei, é bem mais comedida no fornecer os benditos guardanapos. Não apenas a mim com também aos demais clientes. Talvez que tenha aprendido com uma tirada minha equivalente, quando me atendeu pela primeira vez.
Isto da ecologia e coisa e tal não pode ser apenas no discurso. Tem que ser nas práticas também. Ou principalmente.
E se eu não sou nenhum santo e cometo os meus pecados, nalgumas coisas não arredo pé.
Manias!

(Nota extra: comi o hambúrguer, e mais as batatas, e mais a cola, e mais o gelado, e só usei um guardanapo.)

By me

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