Admitamos que a
mocinha teve azar. Com tantos clientes e logo lhe havia de calhar eu na rifa.
Nunca a tinha eu
visto ali, e sou cliente mais ou menos assíduo desta casa de hambúrgueres. Que,
em estando bom tempo, se pode vir para a esplanada e fumar um cigarrito ainda
antes de nos levantarmos da mesa.
Mas como de
pequenino se torce o pepino, exactamente por ser a primeira vez que me atendia,
ataquei a fundo.
Quando empurrou
ligeiramente o tabuleiro na minha direcção, depois de pago e com tudo em cima,
fiz uma pausa, olhei para ele, olhei para ela e, com o ar mais ingénuo deste
mundo, perguntei-lhe:
“Desculpe. Tenho
um aspecto assim tão porco e imundo?”
A sua pele negra
ficou quase da cor dos guardanapos e titubeou nem sei o quê, que não percebi. E
continuei:
“É que, sabe, não
são precisos tantos guardanapos. Pelo menos para mim.” E, pegando nos dois de
cima, acrescentei: “Vá, guarde lá esses.” Seriam uns sete ou oito, a olho.
Guardou-os sob o
balcão, enquanto argumentava:
“Ah, sabe, é o hábito…”
“Pois, mas não
passa de desperdício. Veja bem quantas folhas de árvore acaba de poupar!”
E segurando com a
mão boa o tabuleiro, enquanto o apoiava na outra, afastei-me. Não sem antes ter
visto, pelo canto do olho, que a colega dela na caixa do lado sorria, porque não
poderia rir francamente. É que já me conhece há anos e, isso já eu reparei, é
bem mais comedida no fornecer os benditos guardanapos. Não apenas a mim com
também aos demais clientes. Talvez que tenha aprendido com uma tirada minha
equivalente, quando me atendeu pela primeira vez.
Isto da ecologia e
coisa e tal não pode ser apenas no discurso. Tem que ser nas práticas também. Ou
principalmente.
E se eu não sou
nenhum santo e cometo os meus pecados, nalgumas coisas não arredo pé.
Manias!
(Nota extra: comi
o hambúrguer, e mais as batatas, e mais a cola, e mais o gelado, e só usei um
guardanapo.)
By me
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