domingo, 25 de março de 2012

O aloquete




Quem quer que use isto sabe o que está a fazer.
Um bom cadeado, preso num puxador de uma porta, segurando um bom cabo de aço. Não pode haver dúvidas que o dono da chave quer ter a certeza que o que está na outra ponta do cabo não é levado.
E é normal encontrarmos disto garantindo a segurança de motos. Motões ou motociclos. Também não é incomum vermos bicicletas assim presas.
O que já nada tem de comum é vermos cadeados com esta robustez com um cabo desta qualidade num recanto da baixa Lisboeta a garantir que não são roubados os parcos haveres de alguém a quem hoje chamamos de “sem abrigo” e que em tempos eram conhecidos por “vagabundos”.
Talvez que quem viva de perto com esta realidade não ache estranho. Mas para mim, classe média em descida vertiginosa, deixa-me surpreendido.
Do que mais lá estava não fiz registo. Seria como que, à revelia do saber do seu dono, fotografar o interior de uma habitação. E a obtenção de troféus fotográficos tem limites que a ética me impede de ultrapassar.
Fico-me assim a pensar na ilusão na minha própria fechadura, atrás da qual guardo a futilidade da minha câmara, dos meus livros, do meu computador, das minhas panelas, da minha cama, da minha banheira, da minha vida…

By me

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