Na minha infância
assisti ao fazer de uma “última fotografia”.
Um tio-avô meu, já
muito doente, quis ser fotografado. E foi-o, na cama. No momento do disparo
levantou o braço a acenou, sorrindo. Morreu no dia seguinte e tenho para mim
que ele sabia que seria a “última”. E fez questão de se despedir sorrindo.
Era muito especial
este meu tio Artur e esta fotografia marcou-me para sempre, ainda só muito mais
tarde o tenha percebido.
No decurso do meu
projecto “Old Fashion” tive também oportunidade fazer alguma “últimas”
fotografias. Que alguns dos fotografados faleceram algum tempo depois. Em dois
ou três casos, estou mesmo em crer que os retratados sabiam que aquela seria a
sua última fotografia. E, numa delas, a fotografada fez-se retratar olhando a
sorrir para o seu companheiro.
No entanto, e
pondo de parte estas situações extremas, raramente sabemos ao fotografar que
aquela será a última fotografia. Da vida ou da situação. Que o conceito de “último”
só é, regra geral, apercebido à posteriori e raramente à priori.
Esta foi uma
tentativa falhada de fazer uma “última” fotografia.
Entre um raio X e
o ouvir a opinião do médico, fotografei-me na convicção de que seria a última feita
com o braço engessado.
Enganei-me, que
muito raramente podemos prever o que virá, e ainda tenho para uma semana de
braço ao peito.
Está o assunto
principal ao centro? Talvez que não esteja!
Que bem mais
importante que o fotógrafo são os recortes sempre incompletos que ele faz do
seu mundo.
By me
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