quarta-feira, 21 de março de 2012

A última photo




Na minha infância assisti ao fazer de uma “última fotografia”.
Um tio-avô meu, já muito doente, quis ser fotografado. E foi-o, na cama. No momento do disparo levantou o braço a acenou, sorrindo. Morreu no dia seguinte e tenho para mim que ele sabia que seria a “última”. E fez questão de se despedir sorrindo.
Era muito especial este meu tio Artur e esta fotografia marcou-me para sempre, ainda só muito mais tarde o tenha percebido.
No decurso do meu projecto “Old Fashion” tive também oportunidade fazer alguma “últimas” fotografias. Que alguns dos fotografados faleceram algum tempo depois. Em dois ou três casos, estou mesmo em crer que os retratados sabiam que aquela seria a sua última fotografia. E, numa delas, a fotografada fez-se retratar olhando a sorrir para o seu companheiro.

No entanto, e pondo de parte estas situações extremas, raramente sabemos ao fotografar que aquela será a última fotografia. Da vida ou da situação. Que o conceito de “último” só é, regra geral, apercebido à posteriori e raramente à priori.
Esta foi uma tentativa falhada de fazer uma “última” fotografia.
Entre um raio X e o ouvir a opinião do médico, fotografei-me na convicção de que seria a última feita com o braço engessado.
Enganei-me, que muito raramente podemos prever o que virá, e ainda tenho para uma semana de braço ao peito.
Está o assunto principal ao centro? Talvez que não esteja!
Que bem mais importante que o fotógrafo são os recortes sempre incompletos que ele faz do seu mundo.

By me 

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