sábado, 24 de março de 2012

Escritas com... luz




Dizem os especialistas que a fronteira entre a pré-história e a história é a invenção da escrita.
A utilização de caracteres, ideográficos ou fonéticos, que são igualmente entendidos por uma comunidade ou povo.
Conhecemos de cor os nomes de algumas: “Cuneiforme”, “Hieróglifos”, "Romana”, “Árabe”, “Chinesa”, “Cirilico”, e tantas outras.
A forma como esses caracteres se espalham pelo espaço ou superfície é particularmente interessante. A forma como se unem, como são mais angulosos ou curvilíneos, como se alinham por uma linha superior ou inferior, o sentido como são escritos e lidos, se correspondem a sons ou ideias…
A tudo isto acrescente-se a “arte” da caligrafia, do desenhar manualmente esses símbolos, reflectindo em parte o apuro do seu autor, a fluidez e organização das ideias, o instrumento usado…

A invenção da imprensa, se veio democratizar o acesso à leitura e à cultura, veio também diminuir um pouco o desenvolvimento dessa “arte” da escrita e da caligrafia.
A máquina de escrever acelerou o processo e o uso de computadores pessoais está a dar o golpe de misericórdia na caligrafia.
O acto de escrever manualmente está a morrer e ver alguém com papel e caneta que não seja um estudante já começa a ser um episódio raro.
E se no PC existem diversos tipos de caracteres disponíveis (dezenas ou centenas), raros são os que escolhem uma, deixando-se levar por aquelas que, por defeito, são seleccionadas pelos processadores de texto. Indo ainda mais longe, o uso da Internet é bem mais redutor no que a caracteres diz respeito já que o leque dos disponíveis é ainda mais reduzido.
De uma forma ou de outra, vamos ficando balizados com a aldeia global, diminuindo cada vez mais a possibilidade de nos afirmarmos como indivíduos.

E se a escrita com caracteres está assim a evoluir, o mesmo sucede com a escrita com a luz – a fotografia.
Tratando-se de escrita, a sua feitura e leitura estão condicionadas pela cultura onde se insere. Temas, sentidos de leitura, gestão de espaço, etc. Mas também aqui, e mais uma vez, a globalização vem estreitando a forma como é feita e lida. A imposição de grelhas nas páginas web, formatos, resoluções, “peso” dos ficheiros, panóplias de cores, etc., estão, lentamente, a diminuir, cercear a liberdade criativa dos autores, que vão usando este já não novo meio de comunicação para exibirem e divulgarem os seus trabalhos.
Para já não falar de como pode ser igualmente redutor a padronização de sistemas e tecnologias na fotografia animada – Cinema e TV.

A título de exemplo de como é possível, apesar de tudo, fugir a estes standards da globalização, sugiro que se veja o filme Yi-Yi, palma de ouro de Cannes, 2000.
Observe-se como o seu autor, usando todo o enquadramento rectangular e horizontal típico do cinema, conseguiu fazer enquadramentos verticais, no que à acção diz respeito, típico da sua cultura original.
Do meu ponto de vista, é um daqueles filmes que deverá fazer parte da filmoteca pessoal e de referência de qualquer um que se interesse seriamente sobre a escrita da luz!
Recomenda-se!

By me

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