Quando o conheci
tinha trinta e tal anos.
Enérgico,
imaginativo, conversador, bem disposto e brincalhão, era aquilo a que se chama
um companheirão.
Tinha uns
antecedentes atribulados. Fora motorista de camiões de petróleo no Norte de África
e jornalista em Espanha. Aqui estava impedido de entrar, pois que seria preso.
Recusava-se a identificar o elemento da ETA que ele tinha entrevistado e a
polícia e os tribunais procuravam-no por isso.
Como não sabia
estar tranquilo, procurou um ofício de alto risco e veio para junto de nós.
E encontrou o que
procurava.
O sistema foi mais
forte que ele.
Um dia, passou o
portão com uma Walter 9mm na mão à procura de um dos directores. Não o
encontrou porque, ajuizadamente, este fora esconder-se numa casa de banho.
Os ânimos
amainaram e ele desapareceu. Dias mais tarde foi entregar-se, e mais à arma,
num qualquer posto da GNR, algures no centro do país.
Esteve em
tratamento e a trabalhar durante alguns meses. Era uma tristeza vê-lo naquele
estado, mas sabíamos que era dos medicamentos.
Até desaparecer de
novo.
Vim a saber, uns
dias mais tarde e por uma chamada telefónica ao jantar na Bicaense, que estava
tudo bem, tudo resolvido.
Tinham-no
encontrado. Em Sintra. Na serra. Pendurado numa árvore.
O sistema tinha
vencido em toda a linha.
Porque o José
foi-se. Porque nunca perguntaram àquele director, ou qualquer outro, o que se
tinha passado. Tudo continua calmo, porque o sistema vence sempre – quase
sempre!
A já longa lista
de nomes aumentou em mais um.
O João.
Com formação
superior. Com uma posição de algum destaque. Boa pessoa. Muito boa pessoa.
Sempre com um sorriso. Sempre disposto a trabalhar. Em quaisquer circunstancias.
Ainda tentou falar
com alguns dos directores. Supõe-se que com a grande simpatia, e pacatez que
lhe é peculiar.
Não o conseguiu.
Quase que resultou
num caso de sucesso do sistema. Foi encontrado antes de tempo e foi acompanhado
por quem deve e pode.
Desta vez o
sistema não venceu – ainda!
A dança das
cadeiras pelo poder ainda vai só na introdução. Espera-se para breve a sinfonia
em todo o seu esplendor.
Quem atrapalha,
quem incomoda, quem está no caminho, talvez tente falar com algum director, mas
estes estão sempre muito ocupados para olhar para baixo.
Sobram candeeiros
mas falta quem saiba dar os nós para lá pendurar aqueles que assim conjugam o
verbo “EU”:
EU subo
EU trepo
EU espezinho
NÓS marginalizamos
NÓS abatemos
NÓS eliminamos de
vez
Texto e imagem: by me
1 comentário:
Se tivesse publicado este texto hoje (1 de abril) diria que estava a brincar. Mas são assuntos demasiado sérios para brincadeira. O sistema tem muito poder e não questiono sequer a tomada de atitude das personagens que refere, mas estas histórias revoltam.
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