Diz Susan Sontag,
no seu excelente “On photography” que:
Nobody ever discovered ugliness through photographs. But
many, through photographs, have discovered beauty.
Except for those situations in which the camera is
used to document, or to mark social rites, what moves people to take
photographs is finding something beautiful. (The name under which Fox Talbot
patented the photograph in 1841 was the “Calotype”, from “Kalos”, beautiful.
Nobody exclaim “Isn’t that ugly! I must photograph
it!” Even if someone did say that, all it would mean is “I find that ugly
thing… beautiful.”
Eu acrescentaria,
pese embora o abuso de qualquer comparação no pensamento, que raramente se
fotografa o normal, o banal, aquilo que está sempre à nossa frente.
Não que tudo isso
não mereça ser fotografado. Afinal, o Photógrapho reconstrói o mundo com o puzzle
das suas imagens, fracções que são do “todo”.
Acontece que, as
mais das vezes, o olhar não é atraído por esse “normal”.
Tal como os noticiários
só relatam aquilo que sai da normalidade, aquilo que se entende por “digno de
nota”, também o olhar do photógrapho se detém no que é “digno de nota”, naquilo
que, de algum modo, quebra a rotina. Seja isso “bonito” ou feio a ponto de “ser
bonito”.
A caminho do cafezinho
matinal, quase vespertino, com a câmara pendurada no ombro, estaco na rua.
O meu olhar, que
se limitava a vaguear enquanto garantia que não pisaria o indevido nem me
atravessaria no caminho de um qualquer carro, prendeu-se nesta roda. De uma
carrinha que está sempre aqui estacionada e que estou mais que farto de ver. Baixei-me,
verifiquei se não estaria reentrante, contornei para confirmar se haveria mais
assim, e acabei por fotografar esta quebra na rotina.
Falta um parafuso
de fixação da roda.
É esta fotografia
bonita? Certamente que não. Será ela feia? Também não creio que o seja.
É apenas uma
daquelas coisas que prendem o olhar de um talvez photógrapho.
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