Tenho um ódio
visceral à competição. Entendo que não tenho que provar perante ninguém as
minhas qualidades, nem tenho que tentar afirmar-me melhor que quem quer que
seja.
E, tal como no
universo, cada um é o que é, com as suas qualidades e defeitos, também eu tenho
a minha cota parte de ambos, não sendo nem melhor nem pior que ninguém: sou eu!
Há, no entanto, um
competidor terrível, que me tira o sono e sobre quem tenho sempre o maior
prazer em vencer: eu mesmo.
Cada pequena vitória
que consigo sobre mim mesmo tem, do meu ponto de vista, o mesmo sabor que um medalha
olímpica ou uma taça do mundo. Faltaria apenas o hastear da bandeira ou o tocar
do hino, tivesse eu algum deles.
Foi assim que
entendi como uma vitória assombrosa o conseguir segurar, tombar e dar-lhe o uso
previsto – beber – um copo de cerveja preta com a mão esquerda. Que saudades
que tinha disso e que satisfação fazê-lo, mesmo com algum incómodo doloroso. Vitória!
Mas sendo certo
que celebrar sozinho uma vitória nem sempre tem graça, decidi que mais alguém haveria
de sorrir. Senão do que havia conseguido, de qualquer outra coisa.
Assim, quando a
Andreia – soube-lhe o nome porque mo disse de acordo com as regras da casa, que
nunca a havia visto – me pôs na mesa a entrada e disse “bom apetite!” como
sempre, atirei-lhe com o ar mais escandalizado que consegui fazer. “Não diga
isso, por amor de deus!”
Parou no seu
trajecto, olhando para mim sem perceber, e continuei:
“Sendo apetite
vontade de comer e sendo que estou num restaurante de livre vontade, apetite já
eu trago. Certo?”
“Ah, bem, sabe, é
o hábito…”
“Bem sei. E se
quer ser simpática e fazer votos de qualquer coisa ao servir um jantar, diga
antes “bom proveito” ou “que lhe saiba bem”. É que apetite já nós temos.”
Tomei o seu
sorriso divertido (a casa estava quase vazia, entenda-se) como celebrando a
minha vitória esquerdina sobre copos e cervejas. Que a piada, velha que é de
anos e aprendida com um amigo, já a mim me cansa de ouvir.
By me
1 comentário:
Parabéns pela vitória! :)
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