Eu gosto de usar
relógio de bolso.
Não me sinto com
algo a prender-me, que sempre detestei, não me acelera o envelhecimento das
camisas, costumam ser bonitos e, acima de tudo, sendo de mais difícil acesso,
consulta-se menos vezes. E o tempo parece correr mais facilmente na sua própria
velocidade.
Acontece que todos
os que tenho são de quartzo. E, por puro desleixo, fui deixando esgotarem-se as
pilhas e não as fui substituindo.
Levou-me isto, por
pura preguiça, a andar nos últimos tempos com um relógio de pulso. Um mais que
clássico Seiko 5, fiel como poucos mas… de pulso.
Agora imaginem que
fará alguém que usa relógio de pulso e tem uma mão inutilizada que não lhe
permite fechar a correia do relógio.
Resta-lhe, nos
tempos que correm, não usar nenhum sistema específico para medir o tempo e
recorrer ao já convencional relógio do telemóvel. Que dá trabalho e não me
agrada.
A minha
alternativa é ir consultando, por pura preguiça, os relógios que ainda vamos
encontrando na via pública e nalguns estabelecimentos comerciais. E há um tipo
de lojas que tem sempre um, algures colocado na parede e, em regra, oferta de
uma empresa de algum tipo de bebida: cafés e pastelarias.
Mas eis que dou
comigo numa excepção: esta! A pastelaria Néné, ao fundo da Rua Augusta, em
plena baixa de Lisboa.
Tinha eu um
encontro com hora marcada e estava adiantado. Entrei aqui para um café, pacato
e banal. Enquanto mexia a chávena, procurei pelo relógio. Nada! Rodei várias
vezes em torno de mim mesmo, vasculhando cada pedacinho de parede, incluindo
entre expositores, na vã tentativa de encontrar o clássico. Nicles. Coisa
nenhuma. Não havia relógio na parede!
Paguei (note-se
que aqui, local de turistas e afins, um café ao balcão custa 55 cêntimos!) e
preparava-me para sair quando descobri onde estava o medidor de tempo.
Dentro daquilo a
que chamamos, em calão profissional, a “mosca”, no canto inferior direito de um
ecrã de TV, sintonizado numa estação de notícias.
Daquelas
invulgaridades pelas quais só se dá quando: a) se tem o meu ofício; b) se é
curioso; c) se fica com um braço ao peito; d) se é preguiçoso e teimoso.
Recomenda-se o café/pastelaria
Néné.
By me
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