segunda-feira, 26 de março de 2012

Café sem tempo




Eu gosto de usar relógio de bolso.
Não me sinto com algo a prender-me, que sempre detestei, não me acelera o envelhecimento das camisas, costumam ser bonitos e, acima de tudo, sendo de mais difícil acesso, consulta-se menos vezes. E o tempo parece correr mais facilmente na sua própria velocidade.
Acontece que todos os que tenho são de quartzo. E, por puro desleixo, fui deixando esgotarem-se as pilhas e não as fui substituindo.
Levou-me isto, por pura preguiça, a andar nos últimos tempos com um relógio de pulso. Um mais que clássico Seiko 5, fiel como poucos mas… de pulso.
Agora imaginem que fará alguém que usa relógio de pulso e tem uma mão inutilizada que não lhe permite fechar a correia do relógio.
Resta-lhe, nos tempos que correm, não usar nenhum sistema específico para medir o tempo e recorrer ao já convencional relógio do telemóvel. Que dá trabalho e não me agrada.
A minha alternativa é ir consultando, por pura preguiça, os relógios que ainda vamos encontrando na via pública e nalguns estabelecimentos comerciais. E há um tipo de lojas que tem sempre um, algures colocado na parede e, em regra, oferta de uma empresa de algum tipo de bebida: cafés e pastelarias.
Mas eis que dou comigo numa excepção: esta! A pastelaria Néné, ao fundo da Rua Augusta, em plena baixa de Lisboa.
Tinha eu um encontro com hora marcada e estava adiantado. Entrei aqui para um café, pacato e banal. Enquanto mexia a chávena, procurei pelo relógio. Nada! Rodei várias vezes em torno de mim mesmo, vasculhando cada pedacinho de parede, incluindo entre expositores, na vã tentativa de encontrar o clássico. Nicles. Coisa nenhuma. Não havia relógio na parede!
Paguei (note-se que aqui, local de turistas e afins, um café ao balcão custa 55 cêntimos!) e preparava-me para sair quando descobri onde estava o medidor de tempo.
Dentro daquilo a que chamamos, em calão profissional, a “mosca”, no canto inferior direito de um ecrã de TV, sintonizado numa estação de notícias.
Daquelas invulgaridades pelas quais só se dá quando: a) se tem o meu ofício; b) se é curioso; c) se fica com um braço ao peito; d) se é preguiçoso e teimoso.
Recomenda-se o café/pastelaria Néné.

By me 

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