Debatia-me eu, há
uns anos, com uns ensaios de composição, luz e símbolos.
Em pleno Parque da
Liberdade, Sintra, procurava eu os vetustos fetos para contrapor, ou talvez
não, com este relógio acorrentado.
Comigo tinha um
tripé de iluminação com um braço-picota, de onde suspendia o contador de tempo,
tentando colocá-lo por entre as folhagens.
Brincadeiras
minhas, que nem sempre têm bons resultados!
Pois estava eu
nesta quando passa por mim uma fulana com uma catraia minorca. Quando dei por
elas, estavam paradas de boca aberta, mais a pequena que a grande, a olhar para
mim. E ouvi esta a dizer para aquela:
“Vês? Estiveste no
castelo das fadas e aqui está um bruxo! Se não te portas bem, ele leva-te!”
Não resisti! Já
tinha ouvido chamarem-me de Radovan Karadzic, de Bin Laden, de Hassan Hussein,
de Pai Natal, de Vagabundo… Agora de Bruxo e, ainda por cima, com carga
negativa, esta era novidade. Mais para mais, que a garota estava mesmo com
medo, não sabendo se acreditar se não.
Acocorei-me e,
sorrindo, disse-lhe que havia bruxos que faziam coisas boas e bruxos que faziam
coisas más. E perguntei-lhe o que achava que eu fazia.
Para minha
tranquilidade, e bons sonhos dela, entendeu que eu deveria fazer coisas boas e
sorriu-me. E ficou por ali, primeiro ainda com algum receio, mas depois com
à-vontade, enquanto eu dava uns dedos de conversa com a que vim a saber ser a
mãe.
Ainda estive para
lhe atirar, à mãe entenda-se, com o meu sarcasmo e ironia, dizendo que lhe teria
perdoado se me apelidasse de Druida, mas que Bruxo não lhe aceitava. Mas não
tive coragem, até porque não sei se entenderia a coisa.
Acabei por ter que
“fechar a loja”, que as minhas bruxarias lúmicas se perderam com as sombras
que, entretanto, surgiram. E fiquei com esta, a primeira e única com estes
ingredientes.
Texto e imagem: by
me
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