Excerto do livro
de Martine Joly “A imagem e a sua interpretação”, 2002
As fotografias que
não se tiram
…
Por exemplo, num filme
de Michel Deville, “Le Voyage en Douce”, (1979), há uma cena exemplar desta
situação: duas amigas, no decurso se uma viagem-escapadela, tiram
constantemente fotografias uma à outra, enquanto vão acumulando recordações,
cumplicidades, revelações sobre si mesmas. Em dado momento, estão num jardim:
uma delas começa a despir-se, enquanto a outra a fotografa. Sente-se que cada
peça de roupa a menos é mais uma etapa rumo à autenticidade, ao abandono algo
provocador. No momento em que está completamente nua e se oferece sem
reticencias à objectiva, a que está fotografar exclama “acabou-se o rolo” e não
pode tirar mais fotografias. Não há “tomada” no momento mais intenso: muitas
pessoas contam todo o tipo de histórias semelhantes à de “Le Voyage en Douce”:
pessoas que preparam fotografias com grande antecedência e de forma obstinada e
complicada (autorizações, abertura excepcional de determinados sítios) ou ainda
outras que, tendo consciência que estão a viver um momento excepcional
(acontecimento, encontro com uma personalidade) tiram cuidadosamente as suas
fotografias, para logo de seguida verificarem que não havia rolo…
(imagem: by me)
1 comentário:
Certa vez, em Budapeste, visitava eu um bunker subterrâneo da II Guerra, transformado na década de 60 em hospital para os bigs em caso de ataque nuclear.
http://hungarystartshere.com/gallery?group=O56629&index_img=0&offSetId=3
Não se podia fotografar. No final, pedi para tirar só uma, como recordação, o que foi concedido. Só que as pilhas algo já gastas e sujeitas durante 3/4 de hora a temperaturas baixinhas só me aconselharam: "Substitua as pilhas"
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