“Então e fotografia? Tens tirado muitas,
ultimamente?”
Eis uma pergunta que oiço volta e meia.
“Por acaso até não.”, costumo responder. “Há
mais de três semanas que não tiro uma fotografia.”
“Como não?! Logo tu, estares tanto tempo
sem tirar uma fotografia!”
“Bem… há três semanas tirei uma fotografia
da parede. Já estava farto de a ver ali. Mas pendurei logo outra. Agora fazer
fotografia… todos os dias! Ainda há pouco, ali no pátio.”
“Pronto! Lá estás tu com as tuas coisas!”
“Eu explico:
Tirar, o verbo “tirar”, tem uma carga
negativa, de transformação: tirar a carteira a alguém, tirar o bolo do forno,
tirar o lixo.
Já o fazer é positivo, mesmo que negativo. Alguma
coisa que não existia passou a existir: fazer um assalto, fazer um bolo, fazer
limpeza.
Não sei o que fazes com a câmara ou que atitude
tens para com o seu resultado. Mas eu encaro o acto fotográfico como positivo. Criativo.
A partir de coisa alguma – um sensor sem
informação ou cristais de prata virgens de luz, construo algo que não existia
antes: uma fotografia. Poderá a fotografia ser boa ou má, a sua consequência
ser positiva ou negativa. Mas fiz (verbo fazer) algo que não existia. Criei.
Tiro fotografias da gaveta, do arquivo, da
parede, até da carteira.
Mas com a câmara faço fotografias! Todos os
dias!”
Este diálogo, palavra por palavra, não
creio que alguma vez o tenha vivido. Mas inúmeras variações sobre o mesmo tema…
já lhes perdi a conta.
By me
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