segunda-feira, 20 de julho de 2015

Turismos



A tarde foi passada em Sintra: almoço e passeio.
Sabíamos estar a vila cheia de turistas, que é época deles, mas isso não nos refreou e fomos.
Já junto ao palácio, a surpresa da tarde: uma manifestação.
Pequena era ela, mas escoltada por polícia como mandam as tradições. E protestava contra o uso de animais ao serviço do Homem. No caso particular, cavalos para tracção de charretes turísticas. Quase que em silêncio, limitavam-se a exibir alguns cartazes, em várias línguas, e a distribuir folhetos.
Tenho o nariz comprido e dei-lhe uso. Abordei uma das manifestantes e disse-lhe que era interessante o que ali se fazia, mas que faltava o mais importante: o protesto contra as corridas de toiros. Como a que acontece por tradição, à corda, numa aldeia ali perto, em que no final o animal é abatido e a sua carne distribuída.
Quis ela saber mais, data e nome da aldeia. A data nunca a soube, e o nome da aldeia tinha-se-me varrido de todo.
“Não se preocupe”, disse-me. “Em chegando a casa vou consultar a net e fico a saber.”
Mas eu não gostei de eu não saber e tratei de ir ao turismo – edifício imponente na zona velha da vila – para iluminar a escuridão do meu esquecimento.
Não sabiam! Nem a menina que me atendeu, nem as outras duas pessoas que estavam atrás daquele balcão. Sabiam dar algumas respostas limitadas em algumas línguas, que os vi em acção com turistas, sabiam de cor os preços dos muitos artigos (demasiados, a ponto de aquele local se assemelhar a uma qualquer loja privada de recordações), sabiam entregar os mapas, agora sobre as tradições vivas do concelho… nada.
E foram procurar o que lhes perguntei… na net, que ali tinham pronta a resolver qualquer dúvida.
Só acabaram por me esclarecer sobre a data da tradição, porque entretanto me lembrei do nome da aldeia.

Pergunto para que serve uma instituição chamada “turismo” em letras garrafais, num edifício bonito e grande. Só para vender recordações que dizem “Portugal” e “Sintra”, como em qualquer loja? Para entregar mapas e falar várias línguas, como em qualquer recepção de hotel? Para indicar quais os horários, percursos e preços dos autocarros com as “voltinhas turísticas”?
Esperava bastante mais daquela gente, provavelmente com cursos de turismo. No mínimo, saberem das tradições ainda em uso nas aldeias do concelho.

Viemo-nos embora sem grande vontade de continuar a contribuir com os impostos que o município nos exige.

By me 

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