É
sabido que um dos géneros fotográficos mais difíceis é o retrato.
Não
tanto por questões técnicas ou estéticas, mas porque conseguir retratar a “alma”
do retratado, aquilo que está atrás da pele, é mesmo coisa dura de fazer.
Alguns
fotógrafos são geniais e conseguem-no sem esforço. Algumas pessoas são acessíveis
e permitem-no sem barreiras. Mas para a maioria de uns e de outros a coisa é
complicada.
Mais
complicado se torna quando falamos de crianças.
A
sua timidez ou receio do desconhecido, por um lado, ou sua curiosidade insaciável
por outro, tornam o retrato infantil coisa “infernal”. Ou bem que não estão
quietos para a pose ou luz que queremos, ou bem que assumem uma rigidez
assustadora, nada natural.
Nos
tempos em que o digital era só o da impressão do dedo no BI e nos ficheiros
policiais, a coisa era um pouco mais difícil, já que haveria que considerar a
quantidade de fotografias feitas por sessão, controlando o seu gasto e
respectivo custo. Para nem falar na interrupção para recarregar a câmara.
Nessa
época contou-me um mestre algumas das técnicas que usava para conseguir alguma
descontracção por parte da criança e obter o “boneco” que queria.
Uma
delas passava por uma cumplicidade com o modelo. Levava com ele outra câmara,
passível de acidentes mas leve no peso, e passava-a para as mãos do pimpolho,
propondo-lhe um jogo recíproco de fotografia. Algumas crianças, se em idade disso,
alinhavam na brincadeira e ao fim de um pedaço ganhava-se a confiança necessária
para a cumplicidade do retrato.
Outra
técnica era “vencer pelo cansaço”. No meio de um conjunto de brinquedos e
novidades, fartava-se ele de “dar ao gatilho”, enquanto a criança lhe ia dando
atenção, “fazendo-se” à câmara ou fugindo dela. Passado um pedaço, e sendo o
fotógrafo, a câmara e as luzes já conhecidas, virava-se ela para os brinquedos,
deixando de prestar atenção a quem ali estava. Era o momento de colocar o rolo
na câmara e fazer o trabalho.
Tentei
algumas vezes estas abordagens, mas sem grande sucesso. Culpa minha,
certamente, que as imagens que ele trazia demonstravam que funcionavam.
Felizmente
veio o digital, com a sua ausência de limites na quantidade e a sua facilidade
na pós-produção.
By me
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