A história
passou-se em 2004, salvo erro.
Numa madrugada desse
verão, Vénus passou entre o Sol e a Terra e isso foi visível de Portugal. Um
acontecimento astronómico, particularmente raro e que os media se encarregaram
de divulgar por antecedência.
Por mim, que
estava a trabalhar nessa data e hora, saí de casa equipado com uns binóculos
preparados para o efeito: fortes e múltiplos filtros cobriam a lente frontal,
para que se pudesse observar o Sol sem riscos para a saúde. E aproveitei
algumas pausas do trabalho para vir à rua e espreitar.
O que era visível,
com as cores deturpadas pela filtragem, era uma manchinha escura que se movia,
devagar, à frente do disco luminoso. Se não se soubesse de que se tratava, nem
se daria por isso.
Mas o que me ficou
mais fortemente gravado na memória foi o que senti na altura: Estava a ver algo
que já tinha acontecido!
Com uma diferença
que sei de pouco menos de oito minutos, eu estava a ver o passado e a saber
isso mesmo. E senti-me pequeno, enormemente pequeno. Menor que minúsculo! Que,
no espaço e no tempo nada ou quase nada somos. Apesar de toda a importância que
nos atribuímos.
E, cada pedaço que
vemos do espaço que nos cerca, já aconteceu faz muito. Tanto que parte do que
assistimos no firmamento já desapareceu. A relevância que temos no universo é equivalente
à de uma formiga no formigueiro.
Mas ele, o
formigueiro, nem existiria se não fossem todas e cada uma delas.
Da próxima vez que
protestarem sobre algo que está demorado (um atendimento num serviço, um
download, o efeito de um medicamento) recordem-se que as fotografias que
recebemos da sonda em torno de Plutão demoraram 4 horas a percorrer a distância,
à velocidade estonteante de quase a da luz.
E a fotografia
serve para, mais que questões estéticas, mais que questões técnicas, mais que
questões lúdicas, mostrar o passado. À distância de um século ou de quatro
horas luz.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário