terça-feira, 14 de julho de 2015

Jornalismo e dinheiro



Este é um texto retirado do Diário de Notícias em 2004 e assinado por Sérgio Barreto Motta.
E a questão que coloco, e antes ainda que o leiam, é simples: como teremos alguma vez a certeza de esta estória não continua a repetir-se, com outros protagonistas, no Brasil ou em Portugal?

Em 1993, a principal revista semanal brasileira, Veja, publicou uma reportagem que desmoralizou o então Presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro. Com o título “Até tu, Ibsen”, a reportagem acusava o deputado de haver movimentado, ilicitamente, um milhão de dólares no exterior. À época, o nome de Ibsen era citado como possível candidato à presidência da República.
No entanto, segundo uma carta do jornalista responsável pela denúncia, Luís Costa Pinto, pouco antes do fecho da edição o próprio jornalista descobriu o erro que cometera: a quantia movimentada não era um milhão de dólares mas os inexpressivos mil dólares. Segundo o depoimento de Costa Pinto, agora publicado pela concorrente “Isto é”, a “Veja” decidiu não mudar a reportagem e, em vez disso, foi buscar depoimentos que corroborassem a denúncia. A “Veja” desvalorizou o facto de poder prejudicar a imagem da vítima, concentrando as suas preocupações em não ter prejuízo com a suspensão da distribuição, pois a revista já estava impressa.

De acordo com Costa Pinto, o então director executivo da empresa, Paulo Moreira Leite, alegou que alterar a capa já impressa teria um grande custo e, assim, o melhor seria seguir em frente. A “Veja” publicou então a matéria desajustada da realidade, que fulminou a carreira de um expressivo deputado. A revista tinha uma tiragem de 1,2 milhões de exemplares.

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