quarta-feira, 8 de julho de 2015

Coca-Cola for ever - uma velharia de 2009





Há já um bom pedaço que estava a ouvir conversas no patamar da escada, e bem mais alto que o habitual, mas não lhes liguei importância, que não era nada comigo. Mas quando saí de casa, levando comigo o que arrastaria por hora e meia até à Estrela, deparo-me com três senhoras junto a uma porta, fechada.
Todas minhas vizinhas, duas tentavam, em vão, não mostrar nervosismo, enquanto a terceira chorava em coro com a filha de ano e meio, que ficara fechada em casa. E, para piorar a situação, a chave de reserva que uma das vizinhas possuía, não funcionava, que estava a da casa dentro da fechadura, por dentro.
Há já alguns anos que não se deparava algo assim, nem que tinha resolvido um caso destes.
Da primeira vez fora até interessante, que a vizinha em causa ficara na escada, usando, exclusivamente, pantufas, cueca e um negligée particularmente curto. Não me recordo se usaria relógio, nem sei se, na altura, o soube.
Nessa ocasião quis ser prestável e fazer como nos filmes, usando de um cartão para abrir o trinco, o que consegui para enorme espanto dela mas, principalmente, meu, que nunca pensei ser tão fácil.
Desta vez quis fazer o mesmo, mas a fechadura era de melhor qualidade e, pela certa, não fora fabricada em Hollywood. Não resultou!
Tentando manter a calma necessária entre as minhas vizinhas, voltei a casa em busca de algo mais comprido e com igual flexibilidade para o arrombamento, já que o deitar a porta abaixo não apenas seria por demais violento como a criança, de dentro, não gostaria.
Acabei por recorrer a uma garrafa de litro e meio de Coca-Cola que, cortada com o canivete, me forneceu um pedaço de plástico com tamanho suficiente.
No regresso, um outro meu vizinho tentava o que eu havia tentado, com um cartão, e com resultados iguais: coisa nenhuma! Só que eu, com o pedaço de garrafa também não, pelo que a solução encontrada foi telefonar para a polícia, que logo se prontificou em nos enviar um piquete dos bombeiros. Mas com o aviso que isso custaria uns bons 60 euros, mais coisa, menos coisa. Cobram caros, os bombeiros voluntários!
Mas, enquanto vinham e não vinham, tentei de novo e, para alegria de todos os presentes, de um lado e do outro da porta, lá esta se abriu. As lágrimas passaram de desespero a de alívio, mãe e filha misturaram-nas e acho que vi os olhos do meu vizinho a brilharem à luz da escada.
Lá ligámos de novo a cancelar a chamada e voltei a casa em busca dos meus pertences para seguir viagem.
Mas uma decisão tomei: Tal como tenho sempre em casa molas de roupa de madeira, clips, fita isoladora, e no cinto um canivete suíço e uma lanterna, também passará a fazer parte permanente da casa uma ou duas garrafas de litro e meio de Coca-Cola.
Não apenas mata a sede e fornece cafeína, como desentope canos, desenferruja pregos, limpa moedas, organiza os intestinos e, fiquei a saber, ajuda a arrombar portas.

Na imagem, outra utilização da antiga “água suja do imperialismo”: uma lata, trabalhada com o tal canivete, para pendurar no tripé e servir de receptáculo ás pontas de cigarro com que vou matando o tempo em redor da minha “Oldfashion”.
Seja como for, “Coca-Cola for ever”!

By me

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