Há
já um bom pedaço que estava a ouvir conversas no patamar da escada, e bem mais
alto que o habitual, mas não lhes liguei importância, que não era nada comigo.
Mas quando saí de casa, levando comigo o que arrastaria por hora e meia até à
Estrela, deparo-me com três senhoras junto a uma porta, fechada.
Todas
minhas vizinhas, duas tentavam, em vão, não mostrar nervosismo, enquanto a
terceira chorava em coro com a filha de ano e meio, que ficara fechada em casa.
E, para piorar a situação, a chave de reserva que uma das vizinhas possuía, não
funcionava, que estava a da casa dentro da fechadura, por dentro.
Há
já alguns anos que não se deparava algo assim, nem que tinha resolvido um caso
destes.
Da
primeira vez fora até interessante, que a vizinha em causa ficara na escada,
usando, exclusivamente, pantufas, cueca e um negligée particularmente curto.
Não me recordo se usaria relógio, nem sei se, na altura, o soube.
Nessa
ocasião quis ser prestável e fazer como nos filmes, usando de um cartão para
abrir o trinco, o que consegui para enorme espanto dela mas, principalmente,
meu, que nunca pensei ser tão fácil.
Desta
vez quis fazer o mesmo, mas a fechadura era de melhor qualidade e, pela certa,
não fora fabricada em Hollywood. Não resultou!
Tentando
manter a calma necessária entre as minhas vizinhas, voltei a casa em busca de
algo mais comprido e com igual flexibilidade para o arrombamento, já que o
deitar a porta abaixo não apenas seria por demais violento como a criança, de
dentro, não gostaria.
Acabei
por recorrer a uma garrafa de litro e meio de Coca-Cola que, cortada com o
canivete, me forneceu um pedaço de plástico com tamanho suficiente.
No
regresso, um outro meu vizinho tentava o que eu havia tentado, com um cartão, e
com resultados iguais: coisa nenhuma! Só que eu, com o pedaço de garrafa também
não, pelo que a solução encontrada foi telefonar para a polícia, que logo se
prontificou em nos enviar um piquete dos bombeiros. Mas com o aviso que isso
custaria uns bons 60 euros, mais coisa, menos coisa. Cobram caros, os bombeiros
voluntários!
Mas,
enquanto vinham e não vinham, tentei de novo e, para alegria de todos os
presentes, de um lado e do outro da porta, lá esta se abriu. As lágrimas
passaram de desespero a de alívio, mãe e filha misturaram-nas e acho que vi os
olhos do meu vizinho a brilharem à luz da escada.
Lá
ligámos de novo a cancelar a chamada e voltei a casa em busca dos meus
pertences para seguir viagem.
Mas
uma decisão tomei: Tal como tenho sempre em casa molas de roupa de madeira,
clips, fita isoladora, e no cinto um canivete suíço e uma lanterna, também
passará a fazer parte permanente da casa uma ou duas garrafas de litro e meio
de Coca-Cola.
Não
apenas mata a sede e fornece cafeína, como desentope canos, desenferruja
pregos, limpa moedas, organiza os intestinos e, fiquei a saber, ajuda a arrombar
portas.
Na
imagem, outra utilização da antiga “água suja do imperialismo”: uma lata,
trabalhada com o tal canivete, para pendurar no tripé e servir de receptáculo
ás pontas de cigarro com que vou matando o tempo em redor da minha
“Oldfashion”.
Seja
como for, “Coca-Cola for ever”!
By me
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