Fui comprar um
porta-moedas.
É daquelas coisas
completamente triviais, que se fazem só de muito em muito tempo, quando o que
está em uso começa a dar sinais de muita idade. Foi o caso.
O antigo, idoso
que é, já tinha as partes metálicas bem à vista, estragando-me os bolsos. E sai
bem mais caro remendar ou substituir bolsos de calças a cada seis meses que um
porta-moedas a cada seis anos.
Acontece que o
modelo de porta-moedas de que gosto começa a rarear no mercado. Dantes comprava-os
em lojas baratinhas ou feiras. Mas as primeiras estão a fechar e nas segundas não
vão aparecendo os que quero.
Tem-me restado
procurar nas lojas de centros comerciais, onde os preços não são convidativos mas
onde encontro o que quero. E gosto de usar o que quero e não o que me impingem!
Nesta loja, por
onde já tinha passado sem resultado mas com a clássica afirmação “Estamos quase
a recebê-los”, lembravam-se do meu pedido. Melhor dizendo, lembrava-se a
senhora, quase da minha idade. Que, em vendo-me entrar e passado que era mais
de um mês, me disse logo à chegada: “Já cá tenho o que procura”, ainda antes de
eu dizer algo mais que a saudação. E tinha.
Analisei o
produto, reclamei do preço, mas fiz o negócio.
Quando, no final,
ela me faz a agora tradicional pergunta “Quer o número de contribuinte na
factura”, respondi-lhe o conteúdo do costume, desta feita um pouco adaptado: “Olhando
para si, suspeito que não tem ainda idade para ter andado a fugir à PIDE, ou não
me proporia isso.” E fiquei de boca aberta com o que ouvi de volta.
“Não andei bem a
fugir a eles, mas quase.”
Conversa vai,
conversa vem, e acabámos por estar quase uma hora de paleio. É que, pouco mais
nova que eu, fora minha condiscípula no liceu e, para cúmulo, fôramos vizinhos
com a distância de poucas ruas.
E ficámos a
relembrar outros tempos, outras vivências. Que, para surpresa recíproca,
partilhadas. Aliás, partilhadas ao ponto de, quando descrevi alguns dos episódios
dos tempos de liceu e do chamado PREC, ela acabar por se lembrar de mim e do
chapéu que já então usava. Não em detalhe da pessoa mas de algumas das
intervenções sociais que então eu, com outros, fizéramos.
Tal como me
recordei do movimento que ela integrara e das intervenções políticas e sociais
que fizeram.
É bom saber que,
passados quarenta anos, algumas das coisas que fizemos são lembradas com
sorrisos. Numa época em que acreditávamos que o futuro estava nas nossas mãos e
não apenas depositado, via um boletim de voto, numa urna.
Viva ela e todos
os outros que, com ela, fizeram e fazem!
By me
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