Costumam estar por aqui. Ou em locais
equivalentes. Ou ainda bem na baixa da cidade.
A sua conversa é sempre a mesma: estão ali
para receber contributos para causas nobres. Os cães abandonados, as crianças
desvalidas, os sem abrigo… Causas nobres.
De caminho, e porque nada é de borla,
entregam em jeito de compensação coisas como esta: umas bolas de borracha
manhosa a imitar o globo terrestre, o cubo de Rubic, cuja robustez nunca quis
eu testar, umas canetas decoradas (“repare, é coisa sempre útil ter uma caneta”).
Têm sempre um cartão referente à causa em
causa. Bem impresso, sempre com o nome da instituição e do ou da portadora, por
vezes com um logótipo e, mais raro ainda, com a fotografia de quem assim o usa.
Já os conheço faz tempo. Bastante tempo.
Tempo suficiente para lhes conhecer as caras, para lhes conhecer várias
instituições num ano só, para já ter metido conversa e conseguir alguns pares
de olhos bonitos fotografados, tempo suficiente para que, em me vendo aproximar
alguns me sorriam e me pisquem o olho, uma de mão estendida que eu, armado em
cavalheiro, “beijo” sempre, que é assim que se cumprimentam as senhoras, mesmo
que novitas como estas.
Gosto de parar por perto, matando o tempo a
fumar um cigarro, a vê-los e vê-las a trabalhar.
Aparentam não ter método ou alvos
preferenciais mas, e com o tempo, percebemos que assim não é. Há sempre gente
que não é abordada e há pessoas que o é sempre.
Um destes dias, tendo eu tempo e disposição,
prolonguei a minha observação. E, a certa altura, chamei uma delas que no
momento estava na “retaguarda”.
Em chegando ela, perguntei-lhe se tinham técnica
ou seria aleatório. E quem eram os mais “generosos”. Respondeu sem hesitar:
“Os mais carenciados, os angolanos, os
jovens adultos e os turistas.”
A resposta foi tão pronta que me
surpreendeu e me levou a tentar esclarecer:
“Mas sabem fruto de experiência ou é
abordagem calculada?”
“Sabemos mesmo, que o aprendemos na formação.
Isto está tudo estudado.” E foi à sua vida, que se aproximava um casal que
aparentava ser angolano.
Ficarei sempre na dúvida sobre qual das
categorias me englobam, quando sou abordado por quem não conhece o tipo das
barbas e câmara fotográfica.
Mas suspeito que na categoria de “os mais
carenciados”. É que sou sempre gloriosamente ignorado em passando pelos balcões
de corredor, onde tentam convencer os incautos a comprar um cartão de crédito.
Felizmente, devo ter ar de quem não tem como ter um cartão de crédito.
Coisa que, de facto, não tenho. Mas por uma
questão de forma de estar nesta sociedade de consumo compulsivo.
Quanto às e aos profissionais das causas
nobres… Um destes dias dou-lhes a volta e tentarei assistir a uma dessas formações.
Será divertido e muito instrutivo, p’la certa.
By me
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