sábado, 11 de julho de 2015

Na noite



Iam à minha frente no centro comercial e não pude deixar de reparar neles.
Talvez que ainda não tivessem atingido os vinte anos, de mão dada e bem entrelaçada que dava gosto ver, roupas não dispendiosas mas escolhidas. Quiçá para o encontro.
Levava ela uma bolsinha pendurada do ombro esquerdo, o livre. Pequenina, a ponto de nela não caber a minha câmara de bolso. E levava-a aberta. Escancarada mesmo.
Ainda quis eu acelerar o passo e avisa-la disso e do risco. Mas não tive coragem para tal. Ir interromper, com assuntos tão terrenos, aqueles cujos ânimos iam lá tão no alto… não tive coragem.
Aliás, não tive eu coragem nem o funcionário de segurança porque quem passaram, que os varreu de alto a baixo com o olhar. Tenho que partir do princípio que, sendo agente treinado, terá dado pela bolsa aberta. Mas nada fez ou disse.
Tal como nada fizeram ou disseram os dois agentes da PSP, apeados, que cá fora garantiam a segurança dos cidadãos. Também eles, treinados, observaram o casal (que dava gosto ver) e mantiveram-se no papel de serem vistos e não intervirem.
De igual forma, o funcionário de segurança, desta feita já na estação, que os observou com a atenção esperada para um agente de segurança, “se manteve mudo e quedo que nem um penedo”.
Quando os vi dirigirem-se para as escadas de acesso aos cais, achei que bastava. Acelerei mesmo o passo e dei o recado à mocinha, perante o olhar desconfiado dele e o sorriso de agradecimento dela. Eram, de facto, muito jovens, agora que os via de frente.
Não partilhámos cais ou comboio, que os nossos destinos seriam diferentes.
Mas também não partilhámos da segurança que agentes da ordem pública e privada deveriam garantir aos transeuntes e utentes das instalações a seu cargo.


By me

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