Uma
ocasião tive um pássaro.
A
ideia original era oferece-lo pelo natal a uma mocinha, filha de um casal amigo.
Mas sendo que ainda faltava mais de uma semana para a data, levei-o para casa, na
respectiva gaiola bem grande, para que eu mesmo soubesse como o tratar e o
pudesse ensinar à garota.
O
pássaro era um misto de periquito e papagaio e nada sociável. Muito lixo, muito
medo e, em querendo limpar a gaiola ou dar-lhe de comer, atirava-se a mim cheio
de medo, coitado. Para já não falar que o seu piar era bem desagradável.
Entendi
que seria uma má prenda, já que a sua dona cedo dele se desinteressaria e iria
sobrar trabalho para os pais.
E
se eu tinha ficado com ele, ali continuaria.
Tentei
que se habituasse a mim e à minha presença nas imediações, mas não creio que
tal fosse possível.
Um
dia, em acordando eu, estava ele morto no fundo da gaiola.
Doeu-me!
Doeu-me fundo!
Não
que eu gostasse particularmente dele, mas não lhe queria nada de mal e não me
havia apercebido que algo de errado estaria a acontecer com ele.
Mas
a culpa fora minha!
No
fim de contas, a liberdade é algo que todos prezamos por importante, tenha
penas ou pelo, e eu era o carcereiro.
E
é bem estranho que os homens façam da prisão um castigo, penoso que é, e acabem
por remeter para prisões aquele por quem dizem ter estima: pássaros, gatos, cães…
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