domingo, 5 de julho de 2015

Contradições





Uma ocasião tive um pássaro.
A ideia original era oferece-lo pelo natal a uma mocinha, filha de um casal amigo. Mas sendo que ainda faltava mais de uma semana para a data, levei-o para casa, na respectiva gaiola bem grande, para que eu mesmo soubesse como o tratar e o pudesse ensinar à garota.
O pássaro era um misto de periquito e papagaio e nada sociável. Muito lixo, muito medo e, em querendo limpar a gaiola ou dar-lhe de comer, atirava-se a mim cheio de medo, coitado. Para já não falar que o seu piar era bem desagradável.
Entendi que seria uma má prenda, já que a sua dona cedo dele se desinteressaria e iria sobrar trabalho para os pais.
E se eu tinha ficado com ele, ali continuaria.
Tentei que se habituasse a mim e à minha presença nas imediações, mas não creio que tal fosse possível.
Um dia, em acordando eu, estava ele morto no fundo da gaiola.
Doeu-me! Doeu-me fundo!
Não que eu gostasse particularmente dele, mas não lhe queria nada de mal e não me havia apercebido que algo de errado estaria a acontecer com ele.
Mas a culpa fora minha!
No fim de contas, a liberdade é algo que todos prezamos por importante, tenha penas ou pelo, e eu era o carcereiro.

E é bem estranho que os homens façam da prisão um castigo, penoso que é, e acabem por remeter para prisões aquele por quem dizem ter estima: pássaros, gatos, cães…


By me

Sem comentários: