quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Placebo





Com tantos anos a trabalhar em ambientes com ar condicionado, uma certeza eu tenho: há sempre gente que não está satisfeita!
Ou porque está calor, ou porque está frio, ou porque é alérgica, ou porque está vento, ou porque não está a ventilar… há sempre gente descontente e é raro encontrar um grupo de meia dúzia no mesmo espaço e de acordo.
Confesso que não sou muito exigente. Talvez que a camada adiposa me proteja e regule. Mas os demais queixam-se e estão sempre a ir ajustar o respectivo comando: temperatura ou ventilação.
Aquela sala e naquele tempo não era diferente.

O comando era diferente dos de hoje: uma caixinha na parede, dourada se a memória me não falha, com um botão redondo de uns quatro centímetros de diâmetro. Rodava-se para um lado ou para o outro, apontando a marca para a temperatura desejada. E nunca havia consenso sobre o resultado!
Um dia, um de nós mais expedito e bem revoltado com os protestos e ineficácia do sistema, jogou a manápula ao comando e arrancou-o da parede. Assim mesmo: arrancado.
Ficámos todos a saber o porquê do permanente descontentamento.
Tal como os testes clínicos a novos medicamentos, também ali havia um placebo: aquela caixa não estava ligada a coisa alguma, não possuindo fios. Apenas a caixa, comunicando com coisa alguma.
Não me recordo da evolução da história. Mas não tenho memória de aquele buraco ter assim ficado por muito tempo.
As queixas, essas, continuam hoje como então: muitas e sempre em desacordo. 

By me

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