Nada tenho a
esconder sobre a minha vida. Pelo menos não mais que qualquer outro cidadão que
faça uma vida honesta e sem pretender fazer mal a ninguém.
Apesar disso,
continuo a defender que a vida privada de cada um é privada é isso mesmo –
privada – e como tal deve permanecer.
Exactamente por
isso me desagrada até ao tutano a transformação que a sociedade está a sofrer,
para gáudio de alguns: a total vigilância sobre a vida privada de cada um.
Ele é a entrega do
NIF em cada negócio privado, ficando o respectivo registo – quando, quanto e o
quê – nos arquivos estatais; ele é a revista a pessoas e bens a cada viagem de
avião, ficando os agentes privados de segurança a saber o que cada um
transporta e para que efeito; ele é as câmaras de segurança nos espaços
privados e públicos, nem todas controladas por forças de segurança, que
registam cada movimento e presença; ele é o registo e escrutínio permanente da
localização de cada aparelho de comunicação móvel, bem como a obrigatoriedade e
manter esses registos à disposição dos agentes da justiça e não só; ele é,
agora e uma vez mais em nome da segurança, o arquivo e respectiva distribuição
por todo o espaço Schengen de uma série de dados pessoais de cada vez que se
viajar de avião; ele é o “cartão-cliente” das grandes superfícies e o registo
de cada transacção feita com cada cliente…
Não tenho nada a
esconder, não mais que qualquer outro cidadão normal. Mas não me apetece ter a
minha vida privada assim escrutinada e divulgada.
Não me apetece que
a menina do supermercado me pergunte se eu estou com problemas anais por ter
mudado de suavidade no papel higiénico; não me apetece que me batam à porta e
me questionam por estar a ler livros proibidos; não me apetece que um agente de
polícia, numa operação stop, me pergunte porque é que ando a fazer raio-x; não
me apetece que me telefonem a perguntar se quero entrar na loja cuja montra
estou a ver; não me apetece que me perguntem se quero emitir opinião sobre um
museu em Barcelona que visitei amiúde nos últimos cinco anos; não me apetece…
Onde quer que
esteja, Orwell deve estar a rir-se à brava.
Na imagem: um
pedacinho do ficheiro “CDPLAYER.INI” onde constam todos os CD’s que ouvi no meu
computador e respectivas faixas desde a última vez que instalei o sistema
operativo.
By me
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