sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Não me apetece





Nada tenho a esconder sobre a minha vida. Pelo menos não mais que qualquer outro cidadão que faça uma vida honesta e sem pretender fazer mal a ninguém.
Apesar disso, continuo a defender que a vida privada de cada um é privada é isso mesmo – privada – e como tal deve permanecer.
Exactamente por isso me desagrada até ao tutano a transformação que a sociedade está a sofrer, para gáudio de alguns: a total vigilância sobre a vida privada de cada um.
Ele é a entrega do NIF em cada negócio privado, ficando o respectivo registo – quando, quanto e o quê – nos arquivos estatais; ele é a revista a pessoas e bens a cada viagem de avião, ficando os agentes privados de segurança a saber o que cada um transporta e para que efeito; ele é as câmaras de segurança nos espaços privados e públicos, nem todas controladas por forças de segurança, que registam cada movimento e presença; ele é o registo e escrutínio permanente da localização de cada aparelho de comunicação móvel, bem como a obrigatoriedade e manter esses registos à disposição dos agentes da justiça e não só; ele é, agora e uma vez mais em nome da segurança, o arquivo e respectiva distribuição por todo o espaço Schengen de uma série de dados pessoais de cada vez que se viajar de avião; ele é o “cartão-cliente” das grandes superfícies e o registo de cada transacção feita com cada cliente…
Não tenho nada a esconder, não mais que qualquer outro cidadão normal. Mas não me apetece ter a minha vida privada assim escrutinada e divulgada.
Não me apetece que a menina do supermercado me pergunte se eu estou com problemas anais por ter mudado de suavidade no papel higiénico; não me apetece que me batam à porta e me questionam por estar a ler livros proibidos; não me apetece que um agente de polícia, numa operação stop, me pergunte porque é que ando a fazer raio-x; não me apetece que me telefonem a perguntar se quero entrar na loja cuja montra estou a ver; não me apetece que me perguntem se quero emitir opinião sobre um museu em Barcelona que visitei amiúde nos últimos cinco anos; não me apetece…

Onde quer que esteja, Orwell deve estar a rir-se à brava.

Na imagem: um pedacinho do ficheiro “CDPLAYER.INI” onde constam todos os CD’s que ouvi no meu computador e respectivas faixas desde a última vez que instalei o sistema operativo.

By me

Sem comentários: