Não chovia. Melhor
dizendo, não tinha chovido nos últimos quinze minutos.
E eu esperava, de
cigarro aceso na mão, que fossem horas de embarcar naquele suburbano comprido
que ali estava.
Entretanto, na
linha ao lado mas no mesmo cais, chega outra composição. Gente nova ou não
tanto, todos apressados como é normal nas chegadas de comboios às cidades.
De entre eles, um
rapaz, aí pelos vintes, que vinha com calma. Mas decidido para os meus lados.
Fones nos ouvidos, casaco desapertado apesar da aragem bem fresca, estava
decidido no seu propósito.
A um metro, nem
tanto, diz-me:
“Olhe! Dá-me um
cigarro?”
Gostei da pinta,
gostei dos olhos, fotografáveis se tivesse câmara para tal, apeteceu-me dar um
cigarro mas não completamente de borla.
Tirando a
cigarreira do bolso do colete, parei o movimento a meio e respondi:
“Falta é a palavra
mágica!”
Estacou um nico,
talvez nem dois segundos, a olhar para mim. Sorriu, francamente, e acrescentou:
“Sim, tinha-me
esquecido. Se faz favor!”
Sorri também e
completei o movimento, esticando-lhe a cigarreira, entretanto aberta.
Olhou para ela,
hesitou, olhou para ela assim como está na imagem, e olhou de novo, interrogando-me
com o olhar. Explicito. E respondi às palavras não formuladas:
“Pode tirar. Tenho
mais, aqui no outro bolso.”
Tirou, colocou-o
na boca e afastou-se. Um passo, dois passos, talvez nem três. Voltou-se e
atirou-me, sorrindo:
“Já me estava a
esquecer: Obrigado e boa tarde!”
Eu sabia que
valeria a pena dar-lhe um cigarro. Não por ter solicitado, não por ter
agradecido, mas antes por ter hesitado em tirar o penúltimo cigarro.
São estes pequenos
gestos, mesmo vindos de um rapaz de vinte anos, chegando de comboio dos subúrbios
e sem dinheiro para um maço de cigarros, que fazem as grandes pessoas.
Hoje conheci uma,
ali na gare do Oriente.
By me
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