quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O regresso do passado





Sei da história por a ouvir contar. Mas veio de várias bocas, em ocasiões diferentes e com discrepâncias e concordâncias suficientes para a ter por verdadeira.

No período imediatamente a seguir à revolução de Abril havia que estripar a sociedade dos agentes e informadores da odiosa polícia política PIDE.
Não havia dados concretos sobre quem seriam, em muitos casos, pelo que se criaram uns terríveis tribunais populares e operários onde qualquer um poderia acusar alguém e se a maioria concordasse com a acusação, o acusado seria corrido, ou despedido, ou preso, ou…
A par com isto, há que salientar que a esmagadora maioria dos cidadãos, por muito boa vontade que tivesse, estava sedenta de justiça e pouco sabia de leis, de democracia, de organização. E facilmente embarcava em manipulações de opinião, algumas muito mais simples e ingénuas que as que funcionam nos tempos de hoje.
Sei que em alguns locais, não havendo consenso na votação, ou seja, não havendo votos “sim” quanto bastasse para afastar o acusado, havia quem os juntasse às abstenções para fazer vingar a sua vontade.
Sei que em alguns casos funcionou e sei que noutros, os avisados que alertaram para a irregularidade do acto, foram de seguida eles mesmos acusados de cumplicidade com o regime deposto.

A democracia cresceu, a caça às bruxas acabou faz muito tempo, e eu pensava não voltar a ouvir falar em práticas equivalentes hoje. Erro meu.
Num momento de vazio de ideais que atravessamos, já sem troika mas em plena austeridade, com o descontentamento a assombrar as noites difíceis de tantos, novas organizações vão emergindo, assumindo-se como alternativa às organizações políticas que nestes últimos anos têm conduzindo o país ao estado que conhecemos.
Mas, por aquilo que eu mesmo já assisti e por relatos que me vão chegando, vão-se repetindo práticas de “assalto ao poder”, por vezes muito pouco disfarçadas, que me recordam histórias antigas, ouvidas muitas, vividas algumas, e todas que não gostaria de voltar a assistir.

Qualquer forma de totalitarismo, de esquerda, de direita ou de centro, disfarçado com um -ismo, -ista, -ata ou qualquer outro sufixo, me incomoda. 

By me

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