Sei da história
por a ouvir contar. Mas veio de várias bocas, em ocasiões diferentes e com
discrepâncias e concordâncias suficientes para a ter por verdadeira.
No período imediatamente
a seguir à revolução de Abril havia que estripar a sociedade dos agentes e
informadores da odiosa polícia política PIDE.
Não havia dados
concretos sobre quem seriam, em muitos casos, pelo que se criaram uns terríveis
tribunais populares e operários onde qualquer um poderia acusar alguém e se a
maioria concordasse com a acusação, o acusado seria corrido, ou despedido, ou
preso, ou…
A par com isto, há
que salientar que a esmagadora maioria dos cidadãos, por muito boa vontade que
tivesse, estava sedenta de justiça e pouco sabia de leis, de democracia, de
organização. E facilmente embarcava em manipulações de opinião, algumas muito
mais simples e ingénuas que as que funcionam nos tempos de hoje.
Sei que em alguns
locais, não havendo consenso na votação, ou seja, não havendo votos “sim”
quanto bastasse para afastar o acusado, havia quem os juntasse às abstenções
para fazer vingar a sua vontade.
Sei que em alguns
casos funcionou e sei que noutros, os avisados que alertaram para a
irregularidade do acto, foram de seguida eles mesmos acusados de cumplicidade
com o regime deposto.
A democracia
cresceu, a caça às bruxas acabou faz muito tempo, e eu pensava não voltar a
ouvir falar em práticas equivalentes hoje. Erro meu.
Num momento de
vazio de ideais que atravessamos, já sem troika mas em plena austeridade, com o
descontentamento a assombrar as noites difíceis de tantos, novas organizações vão
emergindo, assumindo-se como alternativa às organizações políticas que nestes últimos
anos têm conduzindo o país ao estado que conhecemos.
Mas, por aquilo
que eu mesmo já assisti e por relatos que me vão chegando, vão-se repetindo práticas
de “assalto ao poder”, por vezes muito pouco disfarçadas, que me recordam histórias
antigas, ouvidas muitas, vividas algumas, e todas que não gostaria de voltar a
assistir.
Qualquer forma de
totalitarismo, de esquerda, de direita ou de centro, disfarçado com um -ismo, -ista,
-ata ou qualquer outro sufixo, me incomoda.
By me
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