Esta fotografia
foi feita nos inícios da minha autonomia fotográfica.
E foi um marco
vital nesta minha actividade.
Tinha eu laboratório
à disposição, a película comprava-a a metro e os químicos e papeis não eram
assim tão caros. Desde que em preto e branco, que a fotografia a cores era um
outro campeonato.
E tinha o mundo à
minha disposição para registar. E registei! O que pude, o que quis, o que me
pediram.
Lembro-me de a
fazer: no bairro de Alvalade, em Lisboa, na manhã de um 24 de Dezembro. E
lembro de, na altura, algo me ter batido forte.
Tal como me lembro
de, mais tarde junto ao ampliador e olhando a prancheta branca, me ter
questionado sobre a legitimidade de a ter feito. Questão essa que foi
aumentando à medida que os halogenetos de prata foram escurecendo na tina do
revelador.
Ainda hoje me
questiono.
Este Dezembro,
tantos anos depois, fui em busca do retratado.
Suspeitava eu que
poderia ser uma de duas pessoas, ainda hoje vendendo na rua e na zona. Não
eram.
Depois desta
fotografia tenho pensado muito seriamente no direito que nós, possuidores de
uma câmara fotográfica, temos em fazer registos de gente anónima, sem lhe
perguntar se o podemos fazer ou se podemos divulgar.
A minha opinião,
que se formou nesse distante Natal, é que não! Não temos o direito de assim
entramos na intimidade de terceiros, divulgando-o ao mundo na imprensa, nas galerias
ou na net.
A vida de cada um
a ele pertence e a minha câmara não é uma arma de caçar troféus na selva de betão
que são as cidades.
Entendo que a fotografia
em preto e branco é um caso particular da fotografia.
Não a tenho por
melhor ou pior que a fotografia colorida, apenas se adequa ou não nalguns
casos. Como as cores saturadas, como as High Key, como as silhuetas…
By me
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