“…
Fora com ele,
simplesmente. De imediato. Quero acompanhar-te, disse. Preciso de um Virgílio
silencioso e tu és bom nisso. Quero um guia de aspecto agradável, calado e duro
como nos filmes de safaris dos anos cinquenta. Foram as palavras de Olvido num
entardecer de Inverno diante de uma mina abandonada de Portmán, perto de
Cartagena, junto do Mediterrâneo. Usava um gorro de lã, tinha o nariz vermelho
de frio e os dedos espreitavam pelas mangas demasiado compridas de uma camisola
vermelha e grossa. Disse-o muito séria, olhando-o nos olhos, e depois veio o
sorriso. Stou farta de fazer o que faço, de modo que me colo a ti. Está
decidido. Oh, morte, zarpemos. Et cetera. As minhas próprias fotografias
desagradam-me. É mentira a fotografia ser a única das artes onde a formação não
é decisiva. Agora são todas assim. Qualquer amador com uma Polaroid se equipara
a Man Ray ou Brassai, percebes? Mas também a Picasso ou Frank Lloyd Wright.
Sobre as palavras arte e artista pesam éculos de fraudes acumuladas. O que fazes
não sei muito bem o que é, mas atrai-me. Vejo-te a toda a hora a tirar
fotografias mentais, concentrado, como se praticasses uma estranha disciplina
bushido, com uma máquina fotográfica em lugar de um sabre samurai. Desconfio
que a única arte actual viva e possível é a das tuas caçadas impiedosas. E não
te rias, tonto. Estou a falar a sério. Comecei a compreendê-lo ontem…”
Se gostaram do que
leram, sugiro todo o livro:
“O pintor de
batalhas”, de Arturo Pérez-Reverte.
Pese embora o
romance fale de homens e mulheres, do relacionamento entre seres humanos e seus
sentimentos, a personagem principal é a fotografia, na sua prática e
consequências. E, de caminho, questões éticas também.
Se este exemplar
que aqui se vê é o que estou a ler e que me foi emprestado, a breve trecho
tratarei de comprar um para que conste junto com os demais na minha própria
biblioteca. Gosto sempre de ter ao alcance da mão os livros de que gosto.
Recomenda-se!
By me
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