Naquele tempo
fazer fotografia implicava uma escolha prévia: em cores ou em preto e branco?
Era uma opção
tomada antes de fotografar, ao colocar um rolo na câmara. Opção que tinha que
ser seguida pelo menos enquanto durasse o rolo.
A alternativa era
ter duas câmaras: uma carregada com película a cores, outra com monocromático.
Claro que isto
implicava um orçamento que, em boa verdade, não estava ao alcance de muitos. Ou
bem que eram profissionais ou bem que eram amadores realmente entusiastas ou
então ricaços.
Eu não era
“profissional”, no sentido de trabalhar na rua por encomenda ou pensar em
vender o que fotografava e, seguramente, não era nem sou ricaço.
Encaixava na
segunda e era garantido que os trocos que ia ganhando no ofício que tinha iam
sendo gastos numa paixão que se arrastou até aos dias de hoje.
Assim, houve uma
época em que saía de casa com dois corpos e o conjunto de objectivas. Ambas
eram Pentax MX, com a diferença entre elas que uma possuía o “winder”, a versão
mais leve do “motor”. Permitia um e outro fazer diversas imagens seguidas
avançando ele a película e sem se ter que desenquadrar. Quando hoje vejo gente
com um grip lembro-me sempre desse tempo.
Era assim equipado
(saco, dois corpos, objectivas, flash, rolos, filtros e demais tralha) que
enfrentava o que acontecia na cidade, mais discretos uns acontecimentos, muito
poucos outros, como este.
O ter duas câmaras
dava-me um ar “profissional”, abrindo algumas portas e permitindo-me aceder a
alguns locais que, de outra forma, não conseguiria.
A minha barba
sempre grande e que hoje é incomum, na altura era preta e estava em sintonia
com a moda. O chapéu, esse, destoava do conjunto, mas não abdicava dele nem
pintado.
Foi assim, nestes
propósitos, que consegui abrigar-me desta chuvada que caía (já não sei a data
com rigor, mas algures bem nos inícios do anos oitenta), puxado para cima do
palanque por um outro fotógrafo e empurrado de baixo por um dos que montava
segurança em redor do estrado.
A opção foi o
preto e branco. O multicolorido dos chapéus haveria de diminuir o impacto da
quantidade e do cinzento do dia e da chuva que caía.
Quando, uns dias
depois, comparei os diapositivos já revelados com as ampliações em preto e
branco desse dia, não tive dúvida de ter feito a escolha certa.
Entendo a
fotografia em preto e branco como um caso particular da fotografia.
Não a tenho por
melhor ou pior que a fotografia colorida, apenas se adequa ou não nalguns
casos.
Como as cores
saturadas, como os High Key, como as silhuetas…
By me
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