sábado, 17 de janeiro de 2015

A escolha



Naquele tempo fazer fotografia implicava uma escolha prévia: em cores ou em preto e branco?
Era uma opção tomada antes de fotografar, ao colocar um rolo na câmara. Opção que tinha que ser seguida pelo menos enquanto durasse o rolo.
A alternativa era ter duas câmaras: uma carregada com película a cores, outra com monocromático.
Claro que isto implicava um orçamento que, em boa verdade, não estava ao alcance de muitos. Ou bem que eram profissionais ou bem que eram amadores realmente entusiastas ou então ricaços.
Eu não era “profissional”, no sentido de trabalhar na rua por encomenda ou pensar em vender o que fotografava e, seguramente, não era nem sou ricaço.
Encaixava na segunda e era garantido que os trocos que ia ganhando no ofício que tinha iam sendo gastos numa paixão que se arrastou até aos dias de hoje.
Assim, houve uma época em que saía de casa com dois corpos e o conjunto de objectivas. Ambas eram Pentax MX, com a diferença entre elas que uma possuía o “winder”, a versão mais leve do “motor”. Permitia um e outro fazer diversas imagens seguidas avançando ele a película e sem se ter que desenquadrar. Quando hoje vejo gente com um grip lembro-me sempre desse tempo.
Era assim equipado (saco, dois corpos, objectivas, flash, rolos, filtros e demais tralha) que enfrentava o que acontecia na cidade, mais discretos uns acontecimentos, muito poucos outros, como este.
O ter duas câmaras dava-me um ar “profissional”, abrindo algumas portas e permitindo-me aceder a alguns locais que, de outra forma, não conseguiria.
A minha barba sempre grande e que hoje é incomum, na altura era preta e estava em sintonia com a moda. O chapéu, esse, destoava do conjunto, mas não abdicava dele nem pintado.
Foi assim, nestes propósitos, que consegui abrigar-me desta chuvada que caía (já não sei a data com rigor, mas algures bem nos inícios do anos oitenta), puxado para cima do palanque por um outro fotógrafo e empurrado de baixo por um dos que montava segurança em redor do estrado.
A opção foi o preto e branco. O multicolorido dos chapéus haveria de diminuir o impacto da quantidade e do cinzento do dia e da chuva que caía.
Quando, uns dias depois, comparei os diapositivos já revelados com as ampliações em preto e branco desse dia, não tive dúvida de ter feito a escolha certa.

Entendo a fotografia em preto e branco como um caso particular da fotografia.
Não a tenho por melhor ou pior que a fotografia colorida, apenas se adequa ou não nalguns casos.

Como as cores saturadas, como os High Key, como as silhuetas…

By me

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