quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Felicidades





Uma ocasião, estava eu na minha função de “fotógrafo de jardim” ou, se preferirem como eu, de “fotógrafo à-lá-minuta” em pleno Jardim da Estrela, e sou abordado por duas senhoras.

Queriam elas convencer-me a alinhar na fé delas (já não sei qual) e eram insistentes.

Não gosto eu de ser rude com estas pessoas. Nem podia eu dali fugir, já que tinha o “estendal” montado. Portanto, lá lhes fui dando algum troco, explicando-lhes que não estava interessado, que sou agnóstico, que as questões do divino não me preocupam… Nada adiantou.

Até que, a certa altura, decidi acabar com aquilo. Enchi o peito e atirei-lhes:

“Reparem: vocês prometem a felicidade numa vida para além da morte da qual nunca ninguém voltou para confirmar ou desmentir. Eu, por meu lado, vou proporcionando alguma felicidade, aqui e agora, às pessoas a quem vou ofertando as fotografias que lhes faço. Saem daqui todas com um sorriso e, mesmo que por pouco tempo, vão felizes. Quem é mais eficaz na distribuição, gratuita, de felicidade?”

Olharam para mim como se Satanás tivesse ali mesmo encarnado, disseram mais duas ou três patacoadas e zarparam. Quando passaram por mim, com as suas quatro amigas que andavam ao mesmo por ali, nem pararam.

Ganhei o dia, garanto-vos!



Imagem: by Rui Palha
Texto: by me

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