Circula na rede
uma fotografia detestável.
Se bem me recordo,
refere-se a França (mas não afianço) e mostra um banco de jardim cercado com
grades.
O texto que a
acompanha conta que aquelas grades foram colocadas para que os sem abrigo não
pudessem pernoitar ali, já que os bancos estariam implantados em frente de uma
qualquer loja de alto gabarito.
Se não seria bem
isto, era algo de semelhante.
Nunca entendi bem
a coisa, já que o desfeiar do jardim é tão evidente, de dia, que pior de noite
dificilmente poderá ser.
Os comentários
portugueses a essa fotografia são bem cáusticos, na presunção da veracidade do
relatado.
Esquecem-se – ou não
sabem – que situações semelhantes ou piores acontecem bem mais perto da porta
de casa do que podem imaginar.
Em Lisboa existem
as chamadas “cantinas sociais”. De alcunha “A sopa dos pobres”. Uma delas
situa-se na avenida Almirante Reis, mesmo em frente à Igreja dos Anjos.
Naturalmente que
nas imediações deste apoio social passeiam-se ou apenas estão a matar o tempo
com algumas eventuais conversas uma boa quantidade de utentes dessa cantina. Não
tendo melhor que fazer ou melhor onde estar, vão estando por ali.
Pois o jardim em
torno da igreja foi “podado” dos seus bancos. Todos. Talvez que dez bancos, dos
lados e atrás do edifício da igreja.
Ao que soube – e isto
tem já alguns anos – o objectivo de semelhante “poda” foi o evitar que os utentes
da cantina social pernoitassem nos bancos ou mesmo neles estivessem durante o
dia. Que se a zona já não tem uma frequência afamada, com aqueles forasteiros a
coisa piorava.
Ainda estou para
saber se a decisão surgiu da igreja, se da vizinhança, se da cantina, se da câmara
municipal. Não sei se alguma vez o virei a saber.
Mas entre grades a
proteger bancos de jardim ou o simples retira-los a diferença é mínima, se
alguma.
Do facto não tenho
registo.
Apesar de não
haver bancos, os utentes da cantina vão-se sentando onde podem, que é como quem
diz nas cercas metálicas que envolvem o ajardinado, nos pilaretes de pedra que
evitam os carros entrarem no adro da igreja ou mesmo nos degraus da igreja.
E se tenho escrúpulos
em fotografar desconhecidos, mesmo que de bem com a vida, sem autorização explícita,
estes cidadãos que fazem da rua a sua casa, nem têm as suas paredes para
definirem a sua intimidade e a vergonha da sua condição.
Não faço destas
pessoas e dos seus retratos troféus para pendurar na sala ou exibir nas redes
sociais!
Saiba-se apenas –
e constate-se no dia-a-dia, observando e questionando – que a falta de vergonha
e o desrespeito pelos mais frágeis também acontece por cá. À nossa porta!
By me
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