O texto e imagem juntos
têm rigorosamente cinco anos.
Mas poderia ter
sido escrito hoje mesmo, lamentavelmente.
Foi num destes
dias que li no jornal Público:
Privacidade não é
direito maior que segurança
José Manuel Anes,
presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo,
comentava assim o alerta lançado pela comissão de protecção de dados para a
crescente intromissão na vida privada das pessoas, sintoma de uma sociedade
vigiada, e para a necessidade de estudar o impacto e as consequências das
medidas de vigilância.
“Claro que os
cidadãos têm o direito à privacidade, mas há outro direito que não dispensam
que é o direito à segurança no seu quotidiano e nas viagens de avião”, afirmou.
Admitiu, ainda assim, a possibilidade de minimizar os aspectos intrusivos
dessas medidas, mas nunca acabar com elas. Para José Manuel Anes, são
providências “absolutamente indispensáveis” e que terão de continuar, porque
“as ameaças e os riscos estão a aumentar”.
A este respeito
recordo uma frase, lida não faz muito, e que me ficou registada ad aeternum:
“A sociedade está
podre quando, em nome da segurança, se prescinde da liberdade!”
E, sobre o mesmo
tema ainda, um poema de Bertolt Brecht me vem à ideia:
“Primeiro levaram
os comunistas,
Mas eu não me
importei
Porque não era
nada comigo.
Em seguida levaram
alguns operários,
Mas a mim não me
afectou
Porque eu não sou
operário.
Depois prenderam
os sindicalistas,
Mas eu não me
incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir
chegou a vez
De alguns padres,
mas como
Nunca fui
religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a
mim
E quando percebi,
Já era tarde.”
E se acredito e
defendo as duas últimas citações, a primeira, mais que preocupado, deixa-me
assustado. É que foi em nome da segurança, sob diversos aspectos, que se
cometeram no último século, as maiores barbáries, incluindo a limitação ou
cessação das liberdades, individuais ou colectivas.
No caso do artigo
do Jornal Público, fala-se sobre o uso de scanners no acesso às viagens de
avião. E, em nome da segurança colectiva, é justificada a violação, grosseira
digo eu, da privacidade ou, pior ainda, da liberdade de cada cidadão exibir ou
mostrar do seu corpo apenas aquilo que entender. E o corpo é a última posse do
ser Humano, pelo menos após a extinção da escravatura.
Mas vou mais
longe: Os conceitos subjacentes a esta afirmação legitimam toda e qualquer
actividade preventiva das forças da ordem. Sobre quem quer que seja e seja qual
for o argumento.
Por outras
palavras, o conceito básico de um estado baseado na lei e na igualdade dos
cidadãos cai por terra. Que, naquela afirmação fica implícito que todos são, ou
podem ser, considerados culpados até prova em contrário. E, consequentemente
investigados para provar da sua inocência.
E, na sequência
desta inversão de valores, surgem com toda a naturalidade as polícias
políticas, as prisões arbitrárias, os incentivos às delações anónimas. E
instala-se o medo, em todos e cada um dos cidadãos, que nunca saberão se ou
quando poderão ser a vítima seguinte ou se um qualquer gesto ou palavra sua
poderão estar na origem das perseguições e destruição das suas vidas, públicas
ou privadas.
É uma das técnicas
mais comuns em qualquer ditadura a criação de um inimigo, preferencialmente sem
rosto, que crie o medo generalizado nas populações e que leve os cidadãos a
baixar a guarda, em nome da tal segurança, no tocante aos seus próprios direitos
mais básicos, liberdade incluída.
Não gostaria de,
uma vez mais, referir George Orwell. Mas cada vez mais o mundo tri-partido, a
polícia do pensamento e a teletela obrigatória de ver e de duplo sentido,
deixam de ser ficção. Transformaram-se em antecipação, assustadoramente
próximas e reais!
E o Big Brother
deixará de ser uma personagem de um livro ou o nome de um mau concurso
televisivo.
Toda a minha vida
tenho lutado contra isto! E sempre esperei morrer antes de dar esta guerra por
perdida. Mas cada vez tenho menos ilusões!
By me
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