Houve dois
momentos na vida, relacionados com fotografia, em que quase me borrei de medo.
Enfim, talvez a
expressão seja violenta, mas que tive medo, receio, vontade de fugir ou de não
comparecer, o coração a palpitar, as mãos a transpirar… lá isso tive.
A primeira
aconteceu numa escola. A primeira aula que dei, numa escola que ali e naquele
momento se inaugurava. A responsabilidade era grande, a experiência nenhuma ou
quase e a entrada dos alunos na sala, que não se conheciam nem à escola, foi
pavorosa.
A cada um que
entrava eu pensava o pior possível daquele ou daquela jovem, questionando-me
muito seriamente sobre o que ali estava a fazer. Admito que foi a distância à porta
que me fez não sair, tal como admito que estava profundamente errado e que
aquele bando deles e delas foi estupendo, cheios de vontade de aprender e ir
mais longe.
A segunda
aconteceu bastante tempo depois. Anos, nem sei já quantos.
Fui abordado por
uma senhora que queria fazer um programa de rádio comigo. Uma horinha inteira
de entrevista ou conversa sobre fotografia. Não nos conhecíamos de parte alguma
e ela soubera da minha existência através de um motorista de táxi, pese embora
a proximidade geográfica e profissional.
Claro que acedi,
com o ego cheio de ser tão importante que justificasse aquilo.
Mas, por dentro,
tudo tremeu. E, até entrar no estúdio onde a função decorreu, umas semanas
depois, os joelhos abanaram, a cabeça deu voltas, o cérebro trabalhou a dobrar,
as noites foram longas e as dúvidas foram mais que muitas.
Como raio vou eu
falar de fotografia e do que faço e/ou penso num suporte que não possui imagem?
Como se ilustram ideias e estorietas, vivências e conceitos se mais não há que
a voz para tal? De improviso? Sem sequer uma folha de papel e um lápis!
Sorte a minha,
aquela senhora sabia bastante do seu ofício e, em começando, todos os receios,
medos e dúvidas se dissiparam. Ela tinha feito, e bem, o seu “trabalho de
casa”, a orientação da conversa foi suave e tranquilizadora e, quando terminou,
nem eu tinha dado por ter passado mais de uma hora.
Ouvida mais tarde,
fiquei furioso comigo no que a vocabulário e recurso a “muletas” de discurso se
refere. O resto, o conteúdo e a orientação da conversa foram excelentes.
Ao longo do tempo
que já levo no relacionar-me com a imagem, nas suas diversas modalidades, já estive
em situações extremas.
Mas nem canos
estriados a empurrarem-me a barriga até às costas, nem turbas enfurecidas, nem
perseguições policiais me deixaram tão aflito quanto estas.
Talvez que o meu
pior demónio seja eu mesmo.
By me
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