sábado, 10 de janeiro de 2015

Sons e cheiros



Podia vos mostrar uma imagem do conjunto. Do todo.
Mas para isso haveria eu que a ter feito. E não fiz.
Que prefiro mostrar-vos um nico do todo, dar-vos umas pistas adicionais e deixar que imagineis o resto.
Estava sol.
Cheirava a mofo de armazém muito tempo fechado com as coisas em baús. E cheirava a incenso. Tanto um como outro cheiro provinham de bancas por perto, assim como o de café recém feito e consumido na esplanada ali mesmo, a metro e meio. No máximo.
Ouviam-se alguns pregões alusivos aos conteúdos das bancas: peúgos e cuecas, casacos e castanhas assadas. A leve brisa que se fazia sentir afastava para o outro lado a fumaça convidativa do carvão quente.
Momentos antes, de conversa com uma cigana e argumentando o preço de algo que vendia, comentei o que se ouvia. E ouvi, em resposta, que “cá os da nossa raça, em estando de luto, nem a ouvem”. Fora há um mês, o pai. E o luto era pesado.
Junto com o que se vê, havia um acordeão, uma viola solo, percussão e voz. Que eles alternavam no cantar a modinhas da sua terra natal: França.
E estávamos ali para os lados de Santa Clara, em plena Feira da Ladra, num soalheiro Sábado de Janeiro.
E eu, que tenho a mania dos detalhes e do contra-luz, foi o que se me saiu.

Talvez por tanto gostar de fotografar e ver de frente para o sol faça questão de usar boné de pala longa, com um pára-sol na objectiva.

By me

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