segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O feitiço da Lua





Não sei se é da barba, se do cabelo, se da barriga. Talvez seja do cigarro numa mão e a câmara na outra. Ou talvez que seja por usar os seis sentidos em redor e tentar não perder pitada do que me cerca, mesmo que sem registo de luz ou letras.
Certo é que, seja lá pelo que for, as coisas vão acontecendo, fazendo eu pouco para tal. Se é que faço algo.

Uma ocasião, num local que frequento amiúde, sou abordado por uma senhora.
Com roupagens muito menos que convencionais, tentava ela angariar clientes para uma actividade cultural nas imediações. A abordagem também nada tinha de convencional na conversa e achei-lhe graça. Dei-lhe troco, à minha maneira.
E do troco vieram fotografias, feitas mais tarde, que nos fomos cruzando nos caminhos que percorríamos.
E do troco e das fotografias vieram conversas insuspeitas e imprevistas, com confidências que ouvi e que nada previa que pudessem vir a acontecer.
Uma das últimas vezes que a vi, ao vivo, aguardávamos ambos por um transporte que nos haveria de conduzir, cada um a seu destino. E, talvez porque me confundisse com um padre confessor, ou a alvura das barbas a induzisse a tal, questionou-me sobre o seu aspecto. Queria saber se estaria demasiado “atiradiça” no trajar. E continuou, esclarecendo-me que seguia para um encontro romântico que seria da mais alta importância e queria ter o melhor aspecto possível.
Olhei-a sem saber bem que responder.
Não a conhecia (ou conheço) o suficiente para que pudesse dizer se os seus atavios estariam de acordo com ela mesmo. E, nem conhecendo o seu par, menos ainda me sentia com bases para lhe responder.
Não sei já que lhe disse, mas quando nos separámos ia toda satisfeita. Com ela mesma e com o que a aguardava dali a minutos.
As coisas são o que são e creio só me ter cruzado com ela uma ou duas vezes mais.
Numa delas disse-me, satisfeitérrima, que o tal encontro tinha resultado e que haviam “juntado os trapinhos”.

Vou tropeçando virtualmente nela, quando calha, nas redes sociais. Por aquilo que vou deduzindo, e as redes sociais são o que são, parece que os pombinhos continuam muito apaixonados, apesar das várias voltas que a terra já deu em torno do sol. Satisfaz-me sabê-lo.
O que não sei mesmo de todo é porque é que servi (e vou servindo) de padre confessor ou conselheiro ocasional junto de gente que não conheço, ouvindo e sendo questionado em temas que eu mesmo não teria coragem de abordar senão com um ou uma amigo/a muito intimo/a.
Talvez que das barbas. Ou da câmara que, nestes casos é muito pudica e não faz registo algum.

Porque é que me lembrei disto? Por causa da Lua, que está lindíssima como sempre e que não quis registar, e que é o astro dos namorados.
Esta Lua é doutra ocasião.


By me

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