Não sei se é da
barba, se do cabelo, se da barriga. Talvez seja do cigarro numa mão e a câmara
na outra. Ou talvez que seja por usar os seis sentidos em redor e tentar não
perder pitada do que me cerca, mesmo que sem registo de luz ou letras.
Certo é que, seja
lá pelo que for, as coisas vão acontecendo, fazendo eu pouco para tal. Se é que
faço algo.
Uma ocasião, num
local que frequento amiúde, sou abordado por uma senhora.
Com roupagens
muito menos que convencionais, tentava ela angariar clientes para uma
actividade cultural nas imediações. A abordagem também nada tinha de
convencional na conversa e achei-lhe graça. Dei-lhe troco, à minha maneira.
E do troco vieram
fotografias, feitas mais tarde, que nos fomos cruzando nos caminhos que percorríamos.
E do troco e das
fotografias vieram conversas insuspeitas e imprevistas, com confidências que
ouvi e que nada previa que pudessem vir a acontecer.
Uma das últimas
vezes que a vi, ao vivo, aguardávamos ambos por um transporte que nos haveria
de conduzir, cada um a seu destino. E, talvez porque me confundisse com um
padre confessor, ou a alvura das barbas a induzisse a tal, questionou-me sobre
o seu aspecto. Queria saber se estaria demasiado “atiradiça” no trajar. E
continuou, esclarecendo-me que seguia para um encontro romântico que seria da
mais alta importância e queria ter o melhor aspecto possível.
Olhei-a sem saber
bem que responder.
Não a conhecia (ou
conheço) o suficiente para que pudesse dizer se os seus atavios estariam de
acordo com ela mesmo. E, nem conhecendo o seu par, menos ainda me sentia com
bases para lhe responder.
Não sei já que lhe
disse, mas quando nos separámos ia toda satisfeita. Com ela mesma e com o que a
aguardava dali a minutos.
As coisas são o
que são e creio só me ter cruzado com ela uma ou duas vezes mais.
Numa delas
disse-me, satisfeitérrima, que o tal encontro tinha resultado e que haviam “juntado
os trapinhos”.
Vou tropeçando
virtualmente nela, quando calha, nas redes sociais. Por aquilo que vou
deduzindo, e as redes sociais são o que são, parece que os pombinhos continuam
muito apaixonados, apesar das várias voltas que a terra já deu em torno do sol.
Satisfaz-me sabê-lo.
O que não sei
mesmo de todo é porque é que servi (e vou servindo) de padre confessor ou conselheiro
ocasional junto de gente que não conheço, ouvindo e sendo questionado em temas
que eu mesmo não teria coragem de abordar senão com um ou uma amigo/a muito
intimo/a.
Talvez que das
barbas. Ou da câmara que, nestes casos é muito pudica e não faz registo algum.
Porque é que me
lembrei disto? Por causa da Lua, que está lindíssima como sempre e que não quis
registar, e que é o astro dos namorados.
Esta Lua é doutra
ocasião.
By me
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