Aqueles que me
fazer o favor de ir lendo o que de fraco vou escrevendo sabem que um dos
assuntos sobre o qual me debruço amiúde é a ética fotográfica.
E se a técnica é o
domínio da ferramenta e a estética é o domínio do olhar, já a ética é aquele
difícil domínio daquela vozinha interior que nos impede de fotografar (ou
divulgar), mesmo quando a luz está fabulosa e o assunto é o mais atractivo.
Indo mais longe,
se a técnica e a estética se praticam e aprendem com as tentativas e erros,
consultando manuais e tuturials, ouvido a opinião de outros e comparando o que
fazemos com os mestres fazem, já a ética, devido à sua subjectividade e
subtileza, se não for considerada e praticada a cada instante, a cada acto
fotográfico, é como discutir o sexo dos anjos.
O que proponho ao
grupo é um exercício bem prático de ética.
É quem aceitar
fazê-lo começar ainda antes disso a exercitar os limites sociais e pessoais da
tarefa a que se dispõe. E ser capaz de respeitar o que decidiu interiormente,
tanto na captação como na divulgação. É ser capaz de ouvir e respeitar a
vozinha interior mesmo que confrontado com situação particularmente atractiva.
No próximo dia 20
de Junho, um sábado, acontece em Lisboa a Marcha do Orgulho LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais e transgéneros).
O tema é de si
polémico!
Se para alguns é
completamente indiferente as práticas e opções dxs que participam nesta marcha,
bem como dxs que lá não estão, para outros essas práticas podem ser ofensivas
dos seus próprios conceitos morais. E há ainda quem entenda a justeza da
marcha, já que a liberdade individual não pode ser condicionada pelas opções ou
condições sexuais.
O desafio que
proponho é comparecer e fotografar, de acordo com o conceito de liberdade ali
expresso e reclamado.
Mas a questão
ética é aqui, mais que em qualquer outra manifestação de rua, premente.
Ao fotografar um
manifestação deste género e ao evidenciar caras e indivíduos corre-se o sério
risco de colocar um carimbo acusatório ou censório na cara de cada retratado,
dizendo a quem vir as fotografias que estx é isto ou que aquelx é aquilo.
Não só não entendo
como correcto o carimbar gente como, ao fazê-lo e publicá-lo, se corre o risco
de fazer chegar esse carimbo onde não é suposto que chegue. Numa sociedade onde
a liberdade sexual ainda é um tabu agreste e castrante.
O desafio ou
prática ética é fotografar aquele desfile – colorido, com condições de luz
particularmente interessantes e com alguns marchantes que se exibem e fazem
questão de serem fotografados, deixando no anonimato a maioria dxs que
engrossam a marcha.
E mostrar, usando
das técnicas e estéticas dominadas, que quem ali desfila e assim protesta não
são freaks nem animais exóticos num circo de rua.
Tal como,
igualmente importante, a prática fotográfica deixando de parte eventuais
preconceitos pessoais negativos sobre o comportamento de terceiros.
Fica o desafio na
esperança que alguns o aceitem.
E a certeza de
que, a menos que algo de grave o impeça, por lá me encontrarão a praticar
fotografia numa das situações que tenho por eticamente mais difíceis em Lisboa.
By me
1 comentário:
Praticamente 100 anos depois ainda se mantem verdadeira... "The fact is that relatively few photographers ever master their medium. Instead they allow the medium to master them and go on an endless squirrel cage chase from new lens to new paper to new developer to new gadget, never staying with one piece of equipment long enough to learn its full capacities, becoming lost in a maze of technical information that is of little or no use since they don’t know what to do with it."
- Edward Weston, 1927
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