Eram folhas de
papel encerado.
Com uma área útil
igual ao A4, possuíam ainda no topo um acréscimo de papel perfurado que servia
para prender no tambor rotativo do policopiador.
Os textos eram ali
colocados à máquina, sendo que cada erro tinha que ser tapado com um verniz
especial. Tanto um como outro eram roubados na secretaria da escola que os pais
de um de nós possuía.
Os tipos da
máquina de escrever portátil agrediam a cera na garagem, onde era suposto
estarmo-nos a divertir com as actividades normais para rapazes dos 15/17 anos.
Na altura eu ainda me ficava pelos 14.
Copiado que
estivesse o texto, era a vez do artista do grupo se chegar à frente para que,
com um estilete, rasgasse na cera os traços que resultariam nos desenhos
previamente criados. Originais ou apenas cópias de algum outro.
Com a folha feita
e religiosamente guardada entre cartolinas para que não se estragasse, subíamos
então para a secretaria. Como isto acontecia ao fim-de-semana, esta estava
vazia, o que nos dava tempo de, a coberto da música dos EP’s ou LP’s da garagem,
dar à manivela do stencil e imprimir duas ou três centenas de panfletos.
Distribuíamos o
molho entre nós e cada um ficava encarregue de os colocar na sua escola ou
liceu.
Uma ocasião fui
apanhado, mas foi inconsequente.
E se não fossem
estes panfletos, seriam os do MAEESL (muitas siglas se usavam então e muitas
mais nos tempos que se lhe seguiram).
Deste movimento
ainda fui assistir a algumas reuniões, algures ali para os lados do jardim da
Estrela, sempre com sentinelas estrategicamente colocadas, não fossem as forças
da autoridade, fardadas ou à civil, irromperem.
Recordo em
particular algumas sebentas de textos para a disciplina de ciências que eles
editaram. O livro que tinha sido adoptado era particularmente caro, pelo que se
fizeram cópias e distribuíram pelos estudantes. Sempre com o risco de sermos
apanhados pelas autoridades. Porque nos tinham visto ou porque tínhamos sido
denunciados.
É curioso como, no
Liceu Padre António Vieira em Lisboa e ao contrário de outros, ninguém foi
incomodado com esta sebenta. Até a minha professora tinha uma…
Até que um dia, ao
chegar às aulas, nos disseram que não havia, que fossemos para casa, que tudo
estava a mudar, que era chegado o dia…
By me
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