Tenho alguns
heróis na vida!
Alguns são bem
conhecidos, de outros guardo o seu nome para mim, que são modestos. Mas deste
nem o nome conheço. Infelizmente.
O meu trabalho
obrigava-me a estar dentro do edifício, mesmo de frente para aquela grande
janela rasgada no piso térreo.
Do outro lado da
vidraça, um cruzamento entre a avenida principal e uma rua secundária.
Cruzamento “manhoso”, que os semáforos de saída da rua protegiam os peões, mas
quem vinha da avenida e entrava na menor fazia-o com demasiada leviandade.
Naquele fim de tarde,
com grande quantidade de gente a caminho da estação ferroviária, um jovem cego
parou na beira do passeio, junto do semáforo.
Bem vestido,
óculos escuros e a cana branca na mão. E ali ficou, a bater com ela no passeio,
num pedido de ajuda, mudo mas inequívoco.
O sinal abriu e
fechou por três vezes sem que ninguém desse por ele ou, melhor ainda, lhe desse
um braço para atravessar o perigoso cruzamento.
Até que o assunto
se resolveu da forma mais surpreendente: um motorista de táxi, com passageiro a
bordo, ficou retido no sinal vermelho. Saiu do carro, ajudou o jovem a
atravessar a rua e regressou ao seu volante. E seguiu o seu caminho.
De onde estava,
agarrado à “rabicha do arado” e impossibilitado de lá ir, registei
indelevelmente na minha retina este gesto de mais um herói desconhecido.
Numa cidade em que
cada transeunte mais não é que um obstáculo no nosso trajecto.
By me
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