É verdade que sim:
esta fotografia não está grande coisa.
Aliás, está mesmo
fracota.
Poderia eu
argumentar que a luz estava chocha, que ainda não tinha entrado no espírito da
coisa, que estava a levar uns encontrões e que havia pouco tempo pois estavam a
afastar quem estava no caminho do Chaimite.
Poderia eu
argumentar um montão de coisas, mas isso não acrescentaria rigorosamente nada
de qualidade a esta fotografia. Não fosse…
Fiz esta imagem
porque a senhora se diferenciava dos demais. Não encarneirava, não usava cravo
e os únicos símbolos ao dia seriam a boina vermelha e a estrela nela aposta.
Olhando para ela,
ali desfilando bem em frente ao Chaimite, alegre como poucos, fiquei na dúvida
se essa alegria adviria do festejo geral se de um outro, muito particular: o
ela ainda ali estar a festejar.
A fotografia foi
feita após pedido, como é meu hábito. E como se constata pelo olhar bem
directo.
Já na altura não
fiquei satisfeito, mas foi o que pude fazer e não lhe daria mais atenção no
momento não fora a senhora ter-me pedido para que lha mostrasse. O que fiz,
naturalmente.
Mas ela foi mais
longe e pediu-me que lha mandasse por e-mail. “Claro que sim! E qual é ele?”
disse de imediato, rapando do caderninho e da caneta.
“Não vale a pena,
que venho já preparada.”
E metendo a mão ao
bolso das calças, tirou de lá aquilo que já não vai sendo tão comum assim: um
cartão de visita.
“Mas manda-me
mesmo, não manda? É que há muitos que dizem que mandam e depois não recebo nada…
manda, não manda?”
Não tinha posto os
óculos para escrever o que me dissesse. Mas pu-los para ler o cartão. Estava lá
tudo o que precisava de saber, incluindo uma discreta mas bonita flor de Lis a
encimar tudo.
Esta é mais uma
das centenas de milhar de fotografias falhadas ou menos boas que fiz ao longo
dos anos.
Apesar disso, foi
enviada.
Que sou pessoa
para cumprir promessas, mesmo que envergonhado pelo falhanço.
By me
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