Durante anos este edifício esteve
abandonado. Durante muitos anos, mais de dez, se não estou enganado.
Nunca soube ao certo o porquê. Talvez que
pelo aspecto estranho. Foi desenhado pelo polémico arquitecto Tomáz Taveira,
creio que edificado pouco tempo depois das torres das Amoreiras, em Lisboa. Era
conhecido – pelo menos entre o meu círculo de conhecimentos – como o prédio do
totobola, uma alusão às cruzes que se inserem no boletim.
Talvez que o abandono se prendesse com
questões legais. Ou com o preço pedido. Ou a sua localização que, à época, não
seria das mais famosas, entre o Cais do Sodré e Santos.
Seja como for, esteve muito tempo sem uso.
Depois mudou-se para cá o IADE. Não sei se
pelo preço, se pela localização, se pelo desenho interior, se pelo desenho
exterior. O certo é que se tornou no edifício do IADE, frequentado por alunos e
professores de artes, comunicação, publicidade… fotografia incluída.
Hoje, depois de anos de não lhe prestar
atenção, passei por ele. E dediquei-lhe algum tempo. Entre outros motivos por
ter lido há uns dias que esta “universidade” teria sido comprada por uma congénere
americana, junto com uma outra cujo nome não fixei. E fui olhando.
Para além de no exterior e no átrio de
entrada haver frases, nomes e “boas-vindas” em inglês, algo houve que me deixou
realmente estupefacto. E furioso.
No exterior, em frente da porta, vários
grupos de alunos aproveitavam o ar e o sol. Um grupo maior e alguns mais
pequenos.
No entanto… eram todos iguais. Cinzentos
nos trajes, com roupas das mesmas marcas, mochilas das mesmas marcas, óculos
iguais, até os penteados pareciam terem sido feitos pelos mesmos pentes.
Iguais.
Raismapartam!
Se é verdade que os jovens precisam de se
identificar com um grupo, é igualmente verdade que procuram um lugar ao sol – o
seu lugar – batendo-se pela diferença e afirmação. Mais ainda seria de esperar
numa instituição de ensino superior onde a criatividade é a pedra de toque e
onde se espera que cada um seja criativo à sua maneira e diferente de todos os
outros.
Não era, garantidamente, o que se via
naquele montão de mais de trinta jovens, em idade de contestação e inovação!
Esperaria encontrar esta forma de estar
numa universidade convencional, como Direito, ou História, ou Linguista, algo
ligado à formalidade e ao rigor das regras e factos.
Agora num local como este!?
Se os estudantes de áreas criativas de hoje
têm esta atitude formal e conservadora, cinzenta, amorfa, como exercerão o ofício
que aqui aprendem?
Ou talvez que seja eu que estou errado, e o
futuro da sociedade, criativos incluídos, seja a uniformidade, o cinzentismo, gente
que tem um microchip implantado e responde a um número.
By me
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