segunda-feira, 20 de abril de 2015

Índices





Pouco me importa os discursos governamentais, os relatórios emitidos pelas agências internacionais ou as estatísticas divulgadas cá no burgo: As coisas não estão melhores e ponto final.
A minha opinião baseia-se no quotidiano, na relação com os cidadãos, nas conversas que tenho ou que oiço, nos comportamentos que constato.
Há dois factores, regulares, que muito me dizem sobre o estado das economias pessoais dos portugueses.

Por um lado, aquilo que se vê nos expositores refrigerados dos cafés. Continua a decrescer a quantidade de bolos e guloseimas à vista para aumentar a quantidade de salgados disponíveis.
Não se trata de uma mudança de gostos ou preferências. Ou mesmo de dietas saudáveis. Há cada vez menos dinheiro nos bolsos de quem trabalha e, em paralelo com o recuperar a tradição da lancheira, em que o almoço é levado de casa, as refeições tomadas fora vão deixando de ser de faca e garfo para serem um salgado, uma sandocha e um sumo.
Quem duvide do que digo tem bom remédio: observe os balcões dos cafés e lugares de refeições rápidas. É um facto.

De igual modo, continua a aumentar a quantidade de gente que pede cigarros a desconhecidos.
Não me refiro ao jovens, sempre no crava. Refiro-me a adultos, em trânsito de ou para o trabalho, que pedem um cigarro nas paragens ou estações de comboio.
Ainda mais significativo é que o aumento de senhoras que o fazem. Poderia isto ser um indicativo do quebrar de tabus relativos à liberdade e autonomia feminina. Não creio que seja o caso. Não há mesmo é dinheiro para tabaco e, em se podendo, sempre se fuma da marca “se-me-dão”, que o vício é grande.

Para quem tenha dúvidas sobre o estado da economia individual, repare-se nas zonas dos supermercados onde estão os ovos. As embalagens com os ovos de maior tamanho são cada vez mais menos, quando comparadas com os ovos de menor volume. E preço.
Não creio que as galinhas tenham optado por porem ovos menores. Mas os consumidores, esses, escolhem o mais adequado às suas bolsas.

Um outro sinal de a crise estar para ficar: alguns estabelecimentos de fast-food usam guardanapos de papel com o seu logótipo impresso. No entanto, deixaram de o fazer a duas cores, estando disponíveis apenas em preto. Não sei o quanto isso significa em termos de poupança, mas será significativo, pela certa. E pouco importante para o cliente, que não vê as cores mas tão só o onde limpar a boca.

Mas estas economias forçadas, individuais ou de negócios, não se ficam por aí, sendo constatáveis em quase tudo quanto é coisa ou lugar. Outro exemplo, desta feita bem pessoal:
Como tantos outros, também eu gosto de leite achocolatado. E, como tantos outros, há uma marca de que gosto mais, comparada com as demais.
Pois há uns tempos essa marca deixou de estar visível nos supermercados. Visitei vários, e não apenas o do costume, e nada.
Pois reapareceu nas prateleiras, com uma diferença substancial. No lugar da clássica embalagem de rígida de cartão metalizado por dentro (ou de plástico como algumas concorrentes) aparece agora num singelo saco plastificado. Suponho que seja notoriamente mais barato o seu fabrico, impressão, enchimento, armazenamento e transporte que as embalagens habituais. O preço ao consumidor, esse, mantém-se mais ou menos como sempre foi.
Obrigou-me isto a encontrar um frasco que tornasse prático o acesso ao produto, guardando parte dele na embalagem original. Vou levar tempo até que essa despesa extra – o frasco – seja compensada pelo não aumento do produto. Se alguma vez.

Não adianta as cosméticas numéricas que nos apresentem: Isto não está melhor e todos nós o sentimos no dia-a-dia!

By me

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