Pouco me importa
os discursos governamentais, os relatórios emitidos pelas agências
internacionais ou as estatísticas divulgadas cá no burgo: As coisas não estão
melhores e ponto final.
A minha opinião
baseia-se no quotidiano, na relação com os cidadãos, nas conversas que tenho ou
que oiço, nos comportamentos que constato.
Há dois factores,
regulares, que muito me dizem sobre o estado das economias pessoais dos
portugueses.
Por um lado,
aquilo que se vê nos expositores refrigerados dos cafés. Continua a decrescer a
quantidade de bolos e guloseimas à vista para aumentar a quantidade de salgados
disponíveis.
Não se trata de
uma mudança de gostos ou preferências. Ou mesmo de dietas saudáveis. Há cada
vez menos dinheiro nos bolsos de quem trabalha e, em paralelo com o recuperar a
tradição da lancheira, em que o almoço é levado de casa, as refeições tomadas
fora vão deixando de ser de faca e garfo para serem um salgado, uma sandocha e
um sumo.
Quem duvide do que
digo tem bom remédio: observe os balcões dos cafés e lugares de refeições rápidas.
É um facto.
De igual modo,
continua a aumentar a quantidade de gente que pede cigarros a desconhecidos.
Não me refiro ao
jovens, sempre no crava. Refiro-me a adultos, em trânsito de ou para o
trabalho, que pedem um cigarro nas paragens ou estações de comboio.
Ainda mais significativo
é que o aumento de senhoras que o fazem. Poderia isto ser um indicativo do
quebrar de tabus relativos à liberdade e autonomia feminina. Não creio que seja
o caso. Não há mesmo é dinheiro para tabaco e, em se podendo, sempre se fuma da
marca “se-me-dão”, que o vício é grande.
Para quem tenha dúvidas
sobre o estado da economia individual, repare-se nas zonas dos supermercados onde
estão os ovos. As embalagens com os ovos de maior tamanho são cada vez mais
menos, quando comparadas com os ovos de menor volume. E preço.
Não creio que as
galinhas tenham optado por porem ovos menores. Mas os consumidores, esses,
escolhem o mais adequado às suas bolsas.
Um outro sinal de
a crise estar para ficar: alguns estabelecimentos de fast-food usam guardanapos
de papel com o seu logótipo impresso. No entanto, deixaram de o fazer a duas
cores, estando disponíveis apenas em preto. Não sei o quanto isso significa em
termos de poupança, mas será significativo, pela certa. E pouco importante para
o cliente, que não vê as cores mas tão só o onde limpar a boca.
Mas estas
economias forçadas, individuais ou de negócios, não se ficam por aí, sendo constatáveis
em quase tudo quanto é coisa ou lugar. Outro exemplo, desta feita bem pessoal:
Como tantos
outros, também eu gosto de leite achocolatado. E, como tantos outros, há uma
marca de que gosto mais, comparada com as demais.
Pois há uns tempos
essa marca deixou de estar visível nos supermercados. Visitei vários, e não
apenas o do costume, e nada.
Pois reapareceu
nas prateleiras, com uma diferença substancial. No lugar da clássica embalagem
de rígida de cartão metalizado por dentro (ou de plástico como algumas
concorrentes) aparece agora num singelo saco plastificado. Suponho que seja notoriamente
mais barato o seu fabrico, impressão, enchimento, armazenamento e transporte
que as embalagens habituais. O preço ao consumidor, esse, mantém-se mais ou
menos como sempre foi.
Obrigou-me isto a
encontrar um frasco que tornasse prático o acesso ao produto, guardando parte
dele na embalagem original. Vou levar tempo até que essa despesa extra – o frasco
– seja compensada pelo não aumento do produto. Se alguma vez.
Não adianta as
cosméticas numéricas que nos apresentem: Isto não está melhor e todos nós o
sentimos no dia-a-dia!
By me
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