quinta-feira, 23 de abril de 2015

Gozos



“If you want someting well done, do it yourself!”
Velha máxima que muitos de nós aprendemos cedo e que ainda hoje seguimos.

Quando, há uma data de anos atingi o astronómico número de objectivas possuídas – três: 28, 50, 75-150 - levantou-se-me um grave problema: como transportar tudo aquilo.
Não tinha carro nem carta na altura, como não tenho hoje, e tudo o que transportasse seria em cima de mim. E, preferencialmente, que não despertasse a cobiça a membros da CAPA – Confederação dos Amigos da Propriedade Alheia.
As malas e sacos existentes eram por demais evidentes no seu conteúdo, por um lado. Por outro ou eram demasiado pequenas ou demasiado grandes. E se no primeiro caso não caberia tudo, no segundo encheria eu com outras peças, sempre com o acréscimo do peso.
Portanto, tratei de fazer o meu próprio saco.
O material de base seria – e foi – sola. Isso mesmo, sola de sapato, comprada no mesmo local onde os sapateiros se abastecem. Tinha a vantagem da durabilidade, robustez no formato e discrição no olhar.
Com um formato absolutamente rectangular, o interior foi forrado a veludo sintético. Os fechos e a dobradiça feitos com pele de seleiro e ferragens em latão, vindas das sobras do exército.
O seu interior estava organizado da seguinte forma:
Na parte inferior, a maior, lugar para a câmara ao alto e ao meio, sem objectiva e com o power winder; de cada lado dela, um compartimento com o tamanho certo para uma objectiva. Na tampa, usando elásticos largos, lugar para um conjunto de filtros, pincel e papel de limpeza e dois ou três rolos.
Foi um trabalho duro, o imaginar, aprender a fazer e usar os materiais e ferramentas para a tarefa. Mas o resultado foi o que imaginei, forma e função.
Apesar disso, houve um problema que não antecipei.
Os compartimentos previstos para as objectivas, concebidos para acolher e proteger a maior, ao receberem sobrepostas a 50mm e a 28mm tornavam particularmente difícil de retirar a que, destas duas, ficasse em baixo. Era um exercício de agilidade digital – de dedos – o conseguir agarrar a infeliz lá no fundo do compartimento.
A solução foi usar uma dica aprendida numa revista (na altura as revistam tinham dicas úteis):
Duas tampas traseiras de objectiva solidamente unidas pelas costas, e que receberiam cada uma a sua objectiva. Em puxando pela de cima, vinha a de baixo. Com a enorme vantagem de ser menos uma tampa solta na mala, já que estaria sempre em uso com, pelo menos, uma objectiva.

Da mala perdi o rasto. Tenho a vaga ideia de, anos depois a ter emprestado, mas não garanto.
Já as tampas adaptadas… aqui estão elas, ainda em uso.
E, hábito de então que ainda não perdi: em vendo tampas à venda, da marca e mesmo que usadas, trato de comprar. Nunca sei que uso lhes poderei dar. O único problema, hoje, é o material de que são feitas: plástico rasca, que não se adapta ou aguenta a esta técnica. Algumas, nem baioneta possuem, mesmo que da Pentax: limitam-se a encaixar por pressão e nada mais.


Nada do acima descrito, por si mesmo, melhorou a minha prestação enquanto fotógrafo. Mas deu-me muito gozo!

By me

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