Quando entrei no cafezinho, para a bica
matinal antes de seguir para a grande cidade, já a conversa acontecia.
Dizia uma mocinha, atrás do balcão que
nunca tinha andado de avião. E respondia-lhe uma senhora à frente do balcão,
com idade para ser sua avó, que quando vivia em Angola fartava-se de andar de
avião, que as cidades são distantes e as estradas não prestam.
Entretanto a mocinha veio trazer-me o café
que já sabe que eu quero e perguntar-me se eu queria um copo com água. (Nunca
quero a água, mas meteu-se-lhe na cabeça que sim, paciência). Entretanto a tal
conversa morreu ou quase.
Mas estive vai-não-vai para a reavivar,
metendo o meu longo nariz onde não era chamado.
Mas seria longa a explicação e o meu tempo
para tal não abundava.
No entanto, bem gostaria de lhes explicar
porque é que, apesar de gostar, me recuso a andar de avião.
Para embarcar num avião, tal como no TGV
francês ou no seu equivalente AVE espanhol, há que passar por medidas de
segurança, tendo cada passageiro que demonstrar que não é pessoa perigosa pelo
facto de transportar certo tipo de objectos.
Ora acontece que:
Os objectos não são perigosos. O seu uso
sim! O simples facto de ter comigo um canivete não significa que tenha intuitos
assassinos, mas tão só que gosto de descascar a fruta que como.
Mas o mais importante, que me impede de
embarcar passa por outro motivo: o ter que demonstrar que sou inocente. Que a
sociedade securitária desconfia de tudo e todos.
Na minha cartilha de vida, todos são
inocentes até prova em contrário. Ninguém anda a perguntar a quem passa na rua “vai
matar alguém hoje?” ou semelhante. Presumimos que isso não sucede.
Mas para viagens aéreas, presumem que
qualquer um poderá ser um terrorista e terá que demonstrar, por não transportar
objectos “perigosos” que o não é.
Recuso-me a passar por tal indignidade! Não
dou azo a que possam desconfiar das minhas intenções! Sou “pessoa de bem” e não
admito que partam do princípio do contrário.
Donde, não viajo de avião!
Para os que me dizem, e há quem o diga, “Mas
assim não vais a certos lugares”, respondo:
“Será certo que não. Mas durmo tranquilo, não
tenho vergonha de olhar no espelho nem sou humilhado por uma sociedade que tem
medo de si mesma!”
Imagem: palmada da net
By me
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