quarta-feira, 29 de abril de 2015

Tranquilidades



Quando entrei no cafezinho, para a bica matinal antes de seguir para a grande cidade, já a conversa acontecia.
Dizia uma mocinha, atrás do balcão que nunca tinha andado de avião. E respondia-lhe uma senhora à frente do balcão, com idade para ser sua avó, que quando vivia em Angola fartava-se de andar de avião, que as cidades são distantes e as estradas não prestam.
Entretanto a mocinha veio trazer-me o café que já sabe que eu quero e perguntar-me se eu queria um copo com água. (Nunca quero a água, mas meteu-se-lhe na cabeça que sim, paciência). Entretanto a tal conversa morreu ou quase.
Mas estive vai-não-vai para a reavivar, metendo o meu longo nariz onde não era chamado.
Mas seria longa a explicação e o meu tempo para tal não abundava.
No entanto, bem gostaria de lhes explicar porque é que, apesar de gostar, me recuso a andar de avião.

Para embarcar num avião, tal como no TGV francês ou no seu equivalente AVE espanhol, há que passar por medidas de segurança, tendo cada passageiro que demonstrar que não é pessoa perigosa pelo facto de transportar certo tipo de objectos.
Ora acontece que:
Os objectos não são perigosos. O seu uso sim! O simples facto de ter comigo um canivete não significa que tenha intuitos assassinos, mas tão só que gosto de descascar a fruta que como.
Mas o mais importante, que me impede de embarcar passa por outro motivo: o ter que demonstrar que sou inocente. Que a sociedade securitária desconfia de tudo e todos.
Na minha cartilha de vida, todos são inocentes até prova em contrário. Ninguém anda a perguntar a quem passa na rua “vai matar alguém hoje?” ou semelhante. Presumimos que isso não sucede.
Mas para viagens aéreas, presumem que qualquer um poderá ser um terrorista e terá que demonstrar, por não transportar objectos “perigosos” que o não é.
Recuso-me a passar por tal indignidade! Não dou azo a que possam desconfiar das minhas intenções! Sou “pessoa de bem” e não admito que partam do princípio do contrário.
Donde, não viajo de avião!

Para os que me dizem, e há quem o diga, “Mas assim não vais a certos lugares”, respondo:
“Será certo que não. Mas durmo tranquilo, não tenho vergonha de olhar no espelho nem sou humilhado por uma sociedade que tem medo de si mesma!”


Imagem: palmada da net
By me

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